1989: De alma lavada, com caneta em El Pibe

1989: De alma lavada, com caneta em El Pibe

Brasil quebrou tabu com título em 1989

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A seleção campeã, com uma base que conquistaria o mundo cinco anos depois (Foto: Divulgação/Conmebol)
A seleção campeã, com uma base que conquistaria o mundo cinco anos depois (Foto: Divulgação/Conmebol)

“O Brasil precisa de uma reformulação”; “O futebol brasileiro está em crise”; “Já não somos os melhores do mundo”. Frases que têm inundado a imprensa esportiva brasileira nos últimos tempos, principalmente após o famigerado 7×1 na última Copa do Mundo. Por mais que tais sentenças sejam absolutamente corretas, passam longe do ineditismo.

Em 1989, por exemplo, o Brasil se preparava para sediar a 34ª edição da Copa América. Sem nenhum título de expressão desde a Copa de 70 e vivendo um jejum de 40 anos sem conquistar o título sulamericano, a seleção canarinho tinha que lidar com críticas e uma espécie de ressaca após o insucesso de uma geração extremamente talentosa que fracassou nos Mundiais de 1982 e 1986.

Após o vexame na Copa América anterior, com a derrota por 4×0 para o Chile, o Brasil vivia uma das piores fases de sua história. Para retomar os melhores dias e acabar com o tabu no torneio, a seleção contava com uma nova geração que acabaria sendo a base na Copa de 1990. Taffarel, Mauro Galvão, Ricardo Gomes, Branco, Mazinho, Valdo, sem contar maior símbolo do estilo de jogo da época: Dunga. Tecnicamente, os pilares eram Bebeto e Romário, que já mostravam a química que consagraria o Tetra em 1994.

Esperava-se que o fator casa pudesse alavancar as chances do Brasil na competição. No entanto, ao menos no início, a situação foi diferente do que se pensava. A Fonte Nova, que recebeu as três primeiras partidas da seleção, mostrou um público enfurecido com a ausência de Charles e Bobô, os dois craques do Bahia no Brasileirão de 1988, no time titular. A torcida baiana vaiou o hino brasileiro e um ovo chegou a ser arremessado na direção de Renato Gaúcho, que ocupou o lugar de Charles.

Nessas condições, a campanha começou vacilante. Na estreia, um modesto 3×1 contra a Venezuela, que na época era o maior saco de pancadas do continente. Em seguida, dois empates sem gols, contra Peru e Colômbia, colocaram a equipe contra a parede, precisando vencer o Paraguai no Recife para garantir a passagem para a próxima fase. Com dois gols de Bebeto, o resultado de 2×0 foi definido, classificando os dois times.

A segunda fase portanto, reuniria justamente os quatro times favoritos desde antes do início do torneio. O Uruguai, de Sosa, Alzamendi e Francescoli, a Argentina de Maradona, Caniggia e Burruchaga, além dos brasileiros e paraguaios, formavam o quadrangular final que definiria o campeão.

Logo na primeira rodada da fase final, o confronto mais esperado. Brasil e Argentina, no Maracanã, para um público de mais de 100 mil pessoas. Dessa vez com mais apoio da torcida, o Brasil foi pra cima e assustou a então detentora do título mundial várias vezes no primeiro tempo.

Mas foi só no segundo que a meta de Pumpido foi vazada, e com grande estilo. Em um voleio espetacular, Bebeto marcou o primeiro gol. Sem perder o ritmo, Romário aproveitou o vacilo do zagueiro Brown e marcou o segundo, fechando o placar.

O baixinho brasileiro, aliás, levou a melhor com larga vantagem sobre o “Dios” argentino. Além do gol, chapéus e arrancadas quase imparáveis, Romário chegou a meter a bola entre as pernas de Maradona logo na saída de bola do segundo tempo.

Dois dias depois, a dupla de ataque canarinho entraria em ação novamente para decidir o jogo contra o Paraguai. Bebeto abriu o placar aos 16, e ampliou aos 7 do segundo tempo. Romário selou o resultado seis minutos depois, deixando a seleção empatada com o Uruguai na liderança, tanto nos pontos como no saldo.

O cenário estava pronto. O destino colocava novamente Brasil e Uruguai em uma disputa pelo título no Maracanã, 39 anos depois do Maracanazzo. Uma chance de lavar a alma, espantar os fantasmas que assombravam o futebol brasileiro há décadas e finalmente conquistar um título no maior estádio do mundo.

E para decidir uma partida dessa estatura, não havia ninguém melhor que um gigante de 1,69m. Aproveitando um cruzamento e dividindo com o goleiro, Romário marcou de cabeça o gol do título, aos quatro minutos do segundo tempo. Festa dos 139 mil pagantes e de Sebastião Lazaroni, que ganhava uma trégua com o público até a Copa do Mundo, que seria realizada um ano depois.

Se o desempenho no Mundial da Itália foi insatisfatório, ao menos a estrutura do time que conquistaria o Tetra em 1994 estava construída. E o torcedor brasileiro teve, naquele mês de julho de 1989, ao menos uma oportunidade de resgatar seu orgulho de torcer pela seleção.

 

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