A carruagem costarriquenha virou abóbora? (Parte final)

A carruagem costarriquenha virou abóbora? (Parte final)

Depois de Ruiz, Navas e Campbell, última parte analisa a carreira pós-Copa dos demais destaques da Costa Rica

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Bryan Ruiz e Keylor Navas podem não ter tido tanto sucesso após a histórica campanha da Costa Rica na Copa do Mundo de 2014, mas suas carreiras já eram consolidadas no futebol europeu. Para Joel Campbell, chances não faltaram. E quanto aos mais jovens, ou os que há anos buscam espaço? Na última matéria da série, o Alambrado analisa o desempenho pós-Mundial dos demais heróis costarriquenhos.

Yeltsin Tejeda

 

Aos 22 anos, Tejeda brilhou na Copa do Mundo de 2014 pela Costa Rica (Foto: Reprodução/Twitter)
Aos 22 anos, Tejeda brilhou na Copa do Mundo de 2014 pela Costa Rica (Foto: Reprodução/Twitter)

 

Segundo jogador mais jovem do elenco costarriquenho, Tejeda, de 22 anos, sequer era cotado para ser titular antes do Mundial. Mas a sorte soprou a seu favor, e Heiner Mora, titular dos Ticos, se lesionou e foi cortado da competição pouco tempo antes da estreia. Com isso, o camisa 17 foi o escolhido por Jorge Luis Pinto para entrar no onze inicial. Um desafio e tanto para o atleta: volante de marcação, teve de substituir um meia ofensivo que atuava pela esquerda. Não bastava apenas defender. Ele também precisaria atacar.

Mas Tejeda não comprometeu. Pelo contrário, surpreendeu e foi um dos mais consistentes atletas da Costa Rica na competição. Muito veloz, caía frequente pelas pontas, fazendo boas tabelas com Borges, Ruiz e Campbell. Defensivamente, cumpriu sua função primária com louvor ao formar uma ótima dupla com Borges, fechando o meio de campo. Foi titular em todos os jogos.

Após a Copa, o salto foi grande. Tejeda deixou o Deportivo Saprissa, um dos principais clubes de seu país, para atuar na primeira divisão francesa. Chegou ao Évian cercado de expectativas. Mas as expectativas do time na liga não eram recíprocas. No ano anterior, a equipe lutou contra a degola até as últimas rodadas, conseguindo escapar.

Para 2014-15, o roteiro não seria muito diferente. Atualmente, o Évian é o 17º, ocupando a última posição antes da zona de rebaixamento. E o desempenho de Tejeda pode não estar sendo espetacular, mas é, sem dúvida, consistente. O meio campista iniciou a temporada como titular, mostrando um bom desempenho. Contabiliza, ao todo, 19 jogos (17 como titular) e um gol até aqui.

Entretanto, ainda não parece contar com a plena confiança do técnico Pascal Dupraz. Contra times que brigam na parte de cima da tabela, como Lyon, Marseille e Bordeaux, Tejeda ficou no banco de reservas e sequer entrou no decorrer dos jogos. Quando quer “estacionar o ônibus”, o treinador opta por uma linha de quatro meias, formando um 4-1-4-1, com apenas Koné de volante, para congestionar o meio e proteger as laterais.

Christian Bolaños

Bolaños defende o catari Al-Gharafa, do brasileiro Nenê (Foto: Reprodução)
Bolaños defende o catari Al-Gharafa, do brasileiro Nenê (Foto: Reprodução)

Embora não tão técnico, mas muito veloz e raçudo, Bolaños encantou dirigentes do futebol brasileiro durante a Copa. Aos 30 anos, o meia foi um dos destaques do time na competição, mas já não tinha idade para buscar grandes centros europeus. No Mundial, sua importância foi tamanha que chegou a ser poupado por Pinto na partida contra a Inglaterra, quando a equipe já estava classificada no grupo da morte.

Para estimular ainda mais o imaginário da cartolagem tupiniquim, Bolaños terminou o torneio sem contrato com clube algum. O último vínculo havia sido com o FC Copenhagen, da Dinamarca, onde jogava desde 2008 (com uma passagem pelo Start, da Noruega, entre 2009 e 2010). Não teve o compromisso renovado, desta vez. Uma contratação barata e de bom apelo para os torcedores brasileiros.

Atlético Mineiro e Flamengo encheram os olhos e entraram em contato com o jogador. Valorizado, Bolaños não parece ter gostado muito da parte financeira das propostas brasileiras. Mostrou vontade de permanecer na Europa e recusou. Mas as ofertas do velho continente não chegaram, e o meia foi obrigado a voltar à Costa Rica. Assinou com o Cartaginés como uma das principais estrelas da liga local.

Teve um bom desempenho na liga local, ajudando a equipe a terminar em terceiro lugar na Liga de Inverno (uma espécie de Apertura/Clausura). Na semifinal, acabou derrotado pelo Herediano, que perderia o título para o Saprissa na final. Com um contrato curto, Bolaños não se apressou para renovar. Vieram então os árabes do Al-Gharafa e seus petrodólares, levando o atleta para o Catar no início de 2015. Ao menos financeiramente, o meia vai muito bem, obrigado.

Óscar Duarte

No Club Brugge, Duarte é um dos destaques (Foto? Reprodução/Instagram)
No Club Brugge, Duarte é um dos destaques (Foto? Reprodução/Instagram)

Referência na altamente competente defesa da Costa Rica, que sofreu apenas dois gols em cinco jogos, Duarte ainda marcou gol logo na estreia, diante do Uruguai, ganhando uma disputa de cabeça. Com bom senso de posicionamento, qualidade nos desarmes e um salto invejável, o zagueiro de 25 anos só não jogou contra os holandeses, por conta de uma expulsão no duelo contra a Grécia, pelas oitavas.

Esse é, provavelmente, o calcanhar de Aquiles de Duarte. O zagueiro é conhecido por fazer poucas faltas, mas quando decide fazer, é para valer. Somente na atual temporada, já acumula duas expulsões diretas. Cartão amarelo? Só um, em mais de 40 jogos disputados.

Apesar disso, pode-se dizer facilmente que Duarte é o atleta mais bem sucedido dos Ticos após a Copa do Mundo. O costarriquenho não trocou de clube após a competição, seguindo no Club Brugge, da Bélgica. Mas se estabilizou como o pilar defensivo da equipe, que lidera a liga local.

Com Duarte em campo, o time belga só perdeu uma vez. Sem ele, o que é raro, foram duas derrotas. A equipe ainda está nas oitavas de final da Liga Europa, tendo vencido o Besiktas por 2 a 1 no jogo de ida. Além da solidez defensiva, o atleta da Costa Rica também já soma quatro gols na atual temporada. Aos 25 anos, o defensor já despertou o interesse do Sunderland no ano passado, e deve atrair olhares de outros clubes da Europa na próxima temporada. Dificilmente permanecerá na Bélgica.

Celso Borges

Celso Borges chegou há pouco tempo, mas já é insubstituível no Deportivo (Foto: Divulgação/LFP)
Celso Borges chegou há pouco tempo, mas já é insubstituível no Deportivo (Foto: Divulgação/LFP)

Filho de pai brasileiro, o segundo volante da Costa Rica foi outro titular absoluto de Jorge Luis Pinto. Só não jogou durante todo o duelo contra a Inglaterra porque foi poupado pelo treinador, pois a equipe já estava classificada. Foi o primeiro batedor de pênaltis diante de Grécia e Holanda, convertendo as duas cobranças.

Homem mais consistente do meio de campo, Borges combinava defesa e ataque de tal forma que chegava a lembrar Arturo Vidal, estrela do Chile e da Juventus, durante a disputa no Brasil. Não chegou a fazer gols, mas apoiou com qualidade e deu segurança aos companheiros mais adiantados.

As boas atuações do atleta na Copa o apresentaram ao futebol mundial. Até então, Borges defendia o AIK, da Suécia, longe de ter o mesmo prestígio. Não chegou a se transferir imediatamente após a competição, mas acertou empréstimo para o Deportivo La Coruña no início de 2015, carimbando seu passaporte para um grande centro da modalidade.

O meio campista não precisou de muito para conquistar o técnico Victor Fernández. Assumiu o posto de titular assim que chegou e não saiu mais do time. Teve a estreia dos sonhos ao marcar dois gols sobre o Rayo e garantindo a vitória por 2 a 1. Só uma reviravolta muito grande para tirar o jogador de 26 anos do futebol espanhol na próxima janela de transferências.

Se a fase do jogador é ótima, o mesmo não pode se dizer quanto ao Deportivo. O clube está na zona de rebaixamento, em 17º, estando sem vencer há cinco rodadas. A luta para tentar escapar da degola promete ser dura. Mas, no que depender de Borges, tudo que estiver ao alcance será colocado em prática.

Giancarlo González

González é o dono da camisa 12 do Palermo (Foto: Divulgação/Assessoria)
González é o dono da camisa 12 do Palermo (Foto: Divulgação/Assessoria)

Assim como Keylor Navas, o grandalhão defensor da Costa Rica esteve em campo durante todos os minutos da equipe na Copa, sem ter sido suspenso, substituído ou poupado. Cumpriu seu papel com perfeição, especialmente pelo alto, culpa de seu 1,91 m. Dificilmente perdia disputas aéreas.

Hoje com 27 anos recém-completados, González estava no Colombus Crew, da Major League Soccer, antes do Mundial. Sua carreira ascendeu com a valorização no torneio e consequente ida ao Palermo, da Itália, para disputar a Serie A.

González chegou para ser titular, e não precisou esperar. É indiscutivelmente uma das referências na defesa do time italiano, principalmente pelo forte jogo aéreo, ponto muito importante no futebol da velha bota.

O que o costarriquenho não contava, contudo, é com falta de sorte. O defensor já se lesionou duas vezes nesta temporada, perdendo jogos importantes. Mais recentemente contra o Empoli, no início do mês. O jogador segue no estaleiro, mas ao menos contabiliza 18 jogos pela equipe italiana em 2014-15.

Cristian Gamboa

Atuando como ala pela direita no esquema com três zagueiros de Jorge Luis Pinto, Gamboa fez uma boa Copa do Mundo. Lateral de origem, esbanjou velocidade e vitalidade, mostrando força no apoio e rigidez defensiva. Saiu valorizado de terras brasileiras.

O prestígio tirou o atleta de 25 anos do Rosemborg, da Noruega, e o levou ao West Bromwich, da primeira divisão inglesa. Uma ótima porta de entrada para o costarriquenho ao mercado inglês – o Albion é uma força média do país e não costuma brigar entre os times de baixo da tabela.

Não é preciso lembrar a diferença entre o nível de competitividade das ligas de Inglaterra e Noruega. O desafio é enorme, e Gamboa tem mostrado dificuldade. O costarriquenho só jogou três vezes como titular até então, tendo entrado 11 vezes no decorrer dos jogos. Não marcou nenhum gol e esteve longe de encantar. Em 2015, chegou a atuar pelo time sub-21 do West Brom, para manter o ritmo de jogo.

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