A discussão sobre o sexto grande na Argentina

A discussão sobre o sexto grande na Argentina

Saiba mais sobre a polêmica dos clubes que buscam lugar neste seleto grupo do futebol argentino

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Huracán em Parque Patricios
Huracán, eterno rival do San Lorenzo, voltou a ser protagonista e reacendeu o debate (Foto: Divulgação)

A discussão sobre a que clube pertence o título de sexto grande do futebol argentino se arrasta há tantas décadas que alguns descomedidos relacionam sua origem ao princípio dos tempos. Exageros à parte, essa pauta está ligada à fusão de entidades que deu origem à Associação do Futebol Argentino (AFA), em 1934, quando o profissionalismo ainda engatinhava no país.

À época, as agremiações mais populares começaram a pressioná-la com o objetivo de obter maior peso na tomada de decisões. Após uma reunião do comitê da AFA em 5 de agosto de 1937, houve a instalação do voto proporcional baseado em critérios como o número de sócios e participações consecutivas na elite local, além, das conquistas desportivas.

Desta maneira, os clubes que passaram a ter o maior poder de voto dentro da instituição que comandava o ludopédio foram Boca Juniors, Independiente, Racing, River Plate e San Lorenzo. Muitos atribuem a esse fato o advento da expressão “cinco grandes”, que ganhou força ao longo do tempo, embora seu embrião tenha surgido em anos anteriores.

Em 1939, ocorreu na AFA o ingresso dos dois principais clubes de Rosário, Newell’s Old Boys e Rosario Central. Mais tarde, seria a vez de outros representantes do interior fazê-lo, como Unión (1940) e Colón (1943), ambos da cidade de Santa Fé. Já em 1946, o então presidente do Huracán, Tomás Adolfo Ducó, conseguiu que o estatuto da entidade fosse modificado para incluir seu clube no grupo dos “grandes”.

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No entanto, durante os primeiros 36 anos da liga profissional, apenas os cinco grandes deram a volta olímpica. Neste período, o River Plate foi o mais vitorioso, com 13 taças, seguido por Boca Juniors (10), Racing (6), Independiente (5) e San Lorenzo (4). O primeiro a quebrar essa hegemonia foi o Estudiantes de La Plata, em 1967, com a conquista do Campeonato Metropolitano.

Neste mesmo ano, a AFA permitiu a entrada de clubes que lhe eram indiretamente associados por meio de ligas regionais para a disputa do Campeonato Nacional, realizado no segundo semestre. Desde então, 11 clubes “intrusos” foram campeões nacionais, como Chacarita Juniors (1969), Rosario Central (1971), Newell’s Old Boys (1974), Quilmes (1978), Ferro Carril Oeste (1982) e Argentinos Juniors (1984), por exemplo.

A partir dos anos 1980, o Huracán afastou-se da parte de cima da tabela e viveu seu inferno astral, que resultou em uma seca de 41 anos e quatro passagens pela segunda divisão. Com a má fase do “Globo” e a ascensão de outras equipes, voltou à tona a discussão sobre quem é o sexto grande da Argentina. Antes, porém, é necessário perguntar quais são os critérios para definir grandeza.

Huracán - El Gráfico
Revista El Gráfico coloca o Huracán entre os grandes clubes do país (Foto: Reprodução)

Não há, obviamente, um consenso sobre os fatores que estabelecem o grau dessa qualidade.

Apesar disso, pode-se mencionar alguns aspectos relevantes, como número de sócios, tamanho da torcedores, temporadas na primeira divisão, quantidade de títulos, jogadores cedidos à seleção, times históricos e infraestrutura.

Isso posto, os seguintes clubes reivindicam a condição de sexto grande: Estudiantes de La Plata, Newell’s Old Boys, Rosario Central e Vélez Sarsfield. O Vélez, que possui quase 50 mil sócios, ganhou destaque a partir da década de 1990 devido às várias conquistas e participações em torneios internacionais, incluindo uma Libertadores e uma Copa Intercontinental.

Já o Estudiantes, que ostenta em sua galeria quatro troféus da Copa Libertadores, possui cerca de 40 mil sócios. Entre os rivais citados, é o que tem mais glórias continentais e o maior número de participações na máxima divisão do futebol argentino (85). Está somente atrás do Vélez em relação a campeonatos nacionais e internacionais obtidos na era profissional (11).

Por sua vez, o Rosario Central, segundo pesquisa da Consultora Equis em março de 2012, tinha a sexta maior torcida do país à época. Foi o primeiro representante do interior a ganhar um título internacional (Copa Conmebol de 1995), tem 57 mil sócios e leva sete jogos de vantagem no confronto direto contra o Newell’s Old Boys.

Olé - Huracán
Capa do diário Olé após famosa pesquisa realizada em 2001 (Foto: Reprodução)

Do lado rubro-negro da cidade, o conjunto “leproso” tem mais de 43 mil sócios, seis taças nacionais, destacadas participações na Libertadores, uma torcida fanática, assim como a do seu arquirrival – justiça seja feita -, além de uma reconhecidamente famosa categoria de base, pela qual passaram grandes jogadores.

Por fim, há o Huracán, tradicional desde o tempo da época amadora do futebol argentino e que inspirou a fundação de uma quantidade assustadora de clubes homônimos. Na atualidade, possui cerca de 15 mil sócios, mas sempre foi tido por muitos como o legítimo sexto grande por sua história. Inclusive, uma famosa pesquisa do jornal Olé em 2001 ratificou essa condição, com mais de 80.000 votos (50,17%).

Enfim, a importância de cada critério é atribuída segundo a visão dos torcedores. Mas o cenário recente, ainda que repleto de adversidades, não diminui a história que o “Globo” construiu ao longo de seus 107 anos de existência e o colocou neste seleto grupo de grandes. Disputas à parte por essa condição, todos esses clubes têm um espaço muito importante na história do futebol do continente.

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