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Após Tragédia de Superga, Itália viajou de navio para a Copa de 1950

Azzurra demorou 16 dias para chegar ao Brasil e, sem preparação adequada, caiu na primeira fase

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Itália Copa do Mund 1950
Azzurra sofreu virada da Suécia por 3×2 em sua estreia na Copa (Foto: Reprodução/Pozzo Archive/FIFA Museum)

Há muitas histórias por trás da bola. Algumas delas envolvem heróis anônimos, situações atípicas e detalhes curiosos que estão diretamente relacionados ao jogo, mas que às vezes passam despercebidas por variados motivos. A expedição da Squadra Azzura com destino ao Brasil para a disputa da Copa do Mundo de 1950 é um exemplo disso. No lugar do deslocamento aéreo, que levaria cerca de 35 horas, os italianos preferiram utilizar as vias marítimas, transformando a viagem em uma pequena odisseia de 16 dias.

À época atual bicampeão do torneio, o selecionado europeu estava enfraquecido devido à tragédia ocorrida no dia 4 de maio do ano anterior, quando o avião que transportava o elenco do Torino de Lisboa para Turim colidiu com a Basília de Superga e vitimou 31 pessoas, entre jogadores (a maioria), equipe técnica, jornalistas e tripulação. Vale ressaltar que o time grená caminhava para a obtenção de seu quinto título nacional consecutivo, ou seja, seus atletas poderiam representar muito bem a Itália no Mundial.

E foi justamente por efeito deste acidente que a federação, em conjunto com a imprensa local, optou por vir de navio para terras tupiniquins. Compreensível. Mas a decisão trouxe consequências negativas, como a falta de uma preparação adequada para a Copa, afinal, trabalhar no meio do mar, mesmo a bordo do Sises, de 16 toneladas, tem lá suas dificuldades. Assim, a Azzurra conseguiu fazer um único treino, em Las Palmas, nas Ilhas Canárias, contra um time local, em 8 de junho, quatro dias depois de partir de Nápoles.

Entre os problemas, estavam as limitadas sessões de exercícios físicos e táticos, orientadas pelo treinador Ferruccio Novo, embora os jogadores ficassem isolados no mais alto nível da embarcação, longe dos passageiros comuns. Outros contratempos, por exemplo, eram o enjoo, o cansaço e o tédio. Uma longa e monótona viagem até o desembarque em 20 de junho, no Porto de Santos, cujas horas eram preenchidas pelas encenações dos atletas Benito Lorenzi, Leandro Remondnci e Gino Cappello.

Cinco dias após a chegada a São Paulo, a squadra de Ferrucio Novo debutou contra a Suécia, no Pacaembu. O Paraguai completava o grupo 3, já que a Índia desistira do torneio. Aos sete minutos, a Azzurra abriu o placar, mas os suecos reagiram e ganharam por 3×2. Na rodada seguinte, em 29 de julho, a Suécia ficou no 2×2 com os paraguaios, no Durival Britto, garantindo a classificação. Desse modo, a Itália já estava eliminada quando bateu os sul-americanos por 2 a 0, em 2 de julho, novamente no Pacaembu.

A precoce volta para casa, curiosamente, foi feita de avião. Mas nem todos quiseram desbravar os ares, como é o caso de Benito Lorenzi. “Ele escolheu ir de navio, mas cometeu um erro subindo em um que parou na França para deixar uma carga. Por isso, ele chegou à Itália um mês depois, bem a tempo de recomeçar a preparação para a temporada”, relembrou em certa oportunidade o falecido centroavante Amedeo “Fornaretto” Amadei, de Roma, Atalanta, Internazionale e Napoli. Histórias da bola.

 

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Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, é apreciador do futebol latino, do teor político-social do esporte bretão e também de seu lado histórico.