A bomba de fumaça que quase impediu a glória inédita da Holanda

A bomba de fumaça que quase impediu a glória inédita da Holanda

No caminho rumo ao título da Euro em 1988, holandeses tiveram que passar por uma cortina de fumaça

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A fumaça na área quase custou caro à Holanda em 1987. (Foto: Reprodução)
A fumaça na área quase custou caro à Holanda em 1987. (Foto: Reprodução)

A festa dos torcedores nas arquibancadas se manifesta em diversas formas. Do êxtase coletivo no grito de gol até movimentos coreografados, passando pela agitação de bandeiras e a melodia de instrumentos musicais, existem diversas formas de expressar o amor pela equipe e deixar o espetáculo ainda mais bonito, por mais que as autoridades muitas vezes insistam em deixar essa celebração mais gelada.

No entanto, é fato que em alguns momentos um indivíduo acaba se excedendo, e um ato isolado pode prejudicar o sonho de um clube ou até mesmo de uma nação futebolística inteira. Quando se trata de um país buscando sua primeira glória no esporte, então, em se fala. Que o diga a seleção holandesa nas Eliminatórias para a Eurocopa de 1988.

A Holanda já convivia naquela época com o estigma de montar grandes equipes e revelar excelentes jogadores, mas não conseguir dar o último passo rumo às taças. Havia sido assim nas Copas do Mundo de 1974 e 1978, com a Laranja Mecânica comandada por Cruyff. Nos anos 1980, uma nova e talentosa geração tentava espantar esse fantasma e finalmente comemorar um título.

Não faltavam grandes nomes naquele time que iniciou as Eliminatórias para a Euro, em 1986. Koeman na defesa, Rijkaard e Gullit coordenando o meio de campo, e um jovem Van Basten forçando os especialistas a criarem novos adjetivos para qualificar suas belíssimas finalizações.

Só um time se classificaria para a fase final da Euro naquele Grupo 5, que contava ainda com Hungria, Polônia, Grécia e Chipre. A Holanda largou como favorita, mas surpreendentes empates em casa contra Polônia e Grécia deixaram a situação da chave mais aberta.

Conforme as rodadas passaram, a briga ficou mais clara. A seleção grega inesperadamente conseguia acompanhar o ritmo e se manter viva na disputa pela vaga. Mas um tropeça dos helênicos contra a Hungria, em seu penúltimo jogo, deixou a Holanda muito perto da vaga. Bastava uma vitória simples contra o Chipre.

No dia 28 de outubro de 1987, a torcida holandesa encheu o estádio De Kuip, em Roterdã, considerando aquele jogo como uma mera formalidade. O Chipre de fato não tinha condições técnicas de segurar o ímpeto daquela fantástica geração de craques holandeses. Logo no início os onos da casa já mostraram quem mandava, fazendo 1×0.

Pouco depois do gol, aconteceu o incidente que quase mudou o rumo da história. Um torcedor holandês de 21 anos localizado atrás do gol defendido pelo cipriota Charitou arremessou uma bomba caseira de fumaça, que estourou na altura da marca do pênalti. A bola continuou rolando, até que o goleiro caiu pedindo atendimento médico. Dizia que não conseguia enxergar.

Os jogadores da Holanda pediam o reinício do jogo, enquanto jornalistas e fotógrafos aproveitavam a confusão para invadir o gramado e tirar fotos de Charitou, que rolava no chão com as mãos cobrindo os olhos. A paralisação durou cerca de 50 minutos. O goleiro foi substituído, e a Holanda prossegui com o baile: a partida acabaria em 8×0.

A briga, porém, não terminava ali. O Comitê Disciplinar da UEFA anulou o resultado com base no comportamento da torcida da Holanda, dando para o Chipre a vitória por 3×0. Com isso, os holandeses entrariam na última rodada do grupo à frente da Grécia por apenas um ponto, com um confronto direto a ser disputado em Atenas.

Para alívio dos torcedores visitantes, o trabalho de bastidores da Federação Holandesa antes do jogo derradeiro funcionou bem. A decisão do Comitê foi revertida em segunda instância, com a alegação de que a bomba de fumaça não havia interferido no desempenho dos jogadores. Para comprovarem sua versão, os holandeses utilizaram como testemunha o médico que prestou os primeiros socorros ao cipriota. Em eu depoimento, o profissional afirmou que o goleiro tinha totais condições jogo.

Com isso, a partida diante do Chipre foi remarcada para o dia 9 de dezembro, com portões fechados, no estádio De Meer, em Amsterdã. Bosman marcou três vezes, e Koeman completou o placar no jogo que, finalmente, garantia a vaga para a Holanda. Na última rodada, para não deixar dúvida, a Laranja ainda venceu a Grécia por 3×0, chegando forte para a Euro 1988, que consagraria os holandeses pela primeira vez.

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