Conflitos na Hungria afetaram a carreira de Puskás

Conflitos na Hungria afetaram a carreira de Puskás

Time do Budapest Honvéd se recusou a voltar para seu país após revoltas em 1956

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Ferenc Puskás
Ferenc Puskás brilhou no Budapest Honvéd antes de se mudar para o Real Madrid e obter dupla cidadania (Foto: Divulgação)

Ferenc Purczeld Bíró, ou Ferenc Puskás, é reconhecido internacionalmente como um dos maiores futebolistas de todos os tempos. Suas façanhas dispensam comentários. Ele foi o líder da grande seleção húngara na primeira metade da década de 1950 e brilhou também no Real Madrid, além de ter sido um artilheiro nato, razão pela qual empresta seu nome ao prêmio de gol mais bonito do ano (aliás, já votou no Wendell Lira hoje?).

Há alguns fatos marcantes a respeito da vida do jogador, porém, que são pouco comentados, talvez em virtude do número de êxitos que ele conquistou ao longo da carreira. Um exemplo interessante está relacionado aos desdobramentos da Revolução Húngara de 1956, que lutava contra a política comunista do país.

Basicamente, a revolta popular espontânea instaurou um novo governo, que manifestou sua vontade de sair da aliança militar estabelecida pelos países socialistas do Leste Europeu após a Segunda Guerra Mundial. Mas o regime soviético, que havia cogitado retirar suas forças do país, decidiu suprimir o movimento e estender sua ocupação.

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Naturalmente, esses eventos acabaram atingindo o futebol. Foi nessa época que tudo mudou para o Honvéd, clube que Puskás defendia desde 1943, quando ainda se chamava Kispest e não era associado ao exército nacional. Seus jogadores estavam na Espanha para enfrentar o Athletic Bilbao pela Copa dos Campeões da UEFA e, devido aos ataques da URSS a Budapeste, recusaram-se a voltar para a Hungria.

Assim, a partida de volta foi transferida para o Estádio de Heysel, em Bruxelas, na Bélgica. O placar de 3 a 3 eliminou o mandante, já que o Athletic Bilbao havia vencido o primeiro encontro por 3 a 2. Sem a vaga e decididos a permanecer longe da terra natal, os jogadores fizeram amistosos internacionais para manter seu sustento.

No entanto, a FIFA os proibiu de atuar enquanto eles não se regularizassem junto à Federação Húngara. O acordo finalmente saiu depois de quase dois anos. Oito atletas regressaram para o país, enquanto os demais se espalharam pela Europa Ocidental, como foi o caso de Puskás, Sándor Kocsis e Zoltán Czibor, que foram para a Espanha.

Enquanto seus dois compatriotas se transferiram para o Barcelona, Puskás viveu durante um ano na Áustria sem obter permissão para jogar. Mostrou interesse em atuar na Itália, onde Juventus e Milan estavam interessados em seu futebol, mas as sanções o impediram de concretizar a negociação.

Ele seguiu afastado dos gramados até 11 de agosto de 1958. Aos 31 anos de idade e acima do peso, graças a seu antigo empresário dos tempos de Honvéd, acertou com o Real Madrid, então presidido por Santiago Bernabéu, formando uma notável linha ofensiva ao lado de Raymond Kopa, Héctor Rial, Alfredo Di Stéfano e Paco Gento.

Proibido de voltar à Hungria, onde era acusado de “trair a pátria”, Puskás conseguiu a nacionalidade espanhola em 1961. As boas apresentações no clube merengue lhe garantiram uma vaga na seleção espanhola que disputou a Copa do Mundo de 1962, no Chile, e foi eliminada logo na primeira fase.

Apesar da frustração em decorrência da queda precoce – lembre-se que ele havia sido vice-campeão mundial em 1954, diante da Alemanha, – Puskás tornou-se um dos cinco jogadores a ter defendido dois países diferentes no maior torneio de futebol do mundo, algo que antigamente era permitido pela FIFA.

A título de esclarecimento, os outros responsáveis pelo feito são Luis Monti (Argentina- 1930 e  Itália-1934), José Santamaría (Uruguai-1964 e Espanha-1962), José João “Mazzola” Altafini (Brasil-1958 e Itália-1962) e Robert Prosinecki (Iugoslávia-1990 e Croácia-1998 e 2002).

Em 1966, aos 39 anos, Puskás decidiu pendurar as chuteiras. Aventurou-se na carreira de técnico até 1992, incluindo passagens por Paraguai, Egito, Grécia e Austrália. Com a extinção da União Soviética, fixou sua residência na Hungria e, mais tarde, ganhou a patente de coronel do exército.

Faleceu por causa de uma pneumonia em 17 de novembro de 2006, aos 79 anos, na mesma Budapeste em que deu seus primeiros chutes e da qual havia ficado tanto tempo longe.

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