Copa de 2022 deve acontecer em novembro. Em 1995, estratégia foi outra

Copa de 2022 deve acontecer em novembro. Em 1995, estratégia foi outra

Mundial Sub-20 daquele ano também aconteceu no Catar, mas no mês de abril

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Estádio Lusail Iconic, que deve ser o palco da final (Foto: FIFA/Divulgação)
Estádio Lusail Iconic, que deve ser o palco da final da Copa de 2022 (Foto: FIFA/Divulgação)

Existem inúmeras controvérsias que envolvem a escolha do Catar para ser a sede da Copa do Mundo de 2022. Indo de críticas pela falta de tradição do esporte no país, passando por denúncias de compra de votos no processo de escolha da FIFA e chegando até a descoberta da utilização de trabalho escravo para o processo de construção das obras, dirigentes de várias partes do mundo tem se mostrado contra a realização do torneio no local.

Nas últimas semanas, uma das principais polêmicas envolvendo o Mundial no Catar voltou à tona, com a entidade máxima do futebol dando sinais cada vez mais fortes que deve transferir o período de realização da Copa, normalmente organizada em meados de junho, para o mês de novembro de 2022, tentando minimizar os efeitos do calor no Catar, que chega a aproximadamente 50ºC no verão.

O Comitê Organizador da Copa no país segue afirmando que é possível colocar aparelhos de ar condicionado em todos os estádios que sediarão a competição, mas ninguém parece levar a ideia a sério. Outra sugestão recorrente tem sido mudar as datas da Copa para os meses de março ou abril, o que provocaria um impacto menor no calendário dos campeonatos nacionais. A FIFA não parece disposta a tomar essa atitude, mas fez algo parecido em 1995.

Mundial Sub-20: Primavera árabe

Argentina conquistou o seu segundo título de sub-20 no Catar (Foto: FIFA/Divulgação)
Argentina conquistou o seu segundo Mundial Sub-20 no Catar (Foto: FIFA/Divulgação)

O Catar foi escolhido como sede do Mundial Sub-20 de 1995 após a desistência da Nigéria, que enfrentava um histórico surto de Ebola. Três estádios na capital, Doha, foram os escolhidos para abrigar os jogos entre as 16 equipes do torneio, que ocorreu entre os dias 13 e 28 de abril daquele ano, ou seja, durante a primavera no país.

Já naquela época, o calor era um ponto incessantemente abordado pelos participantes. A seleção brasileira chegou a realizar treinos com 45ºC, além de ter sofrido para se adaptar ao fuso horário. Apesar das dificuldades, a equipe comandada por Julio Cesar Leal conseguiu chegar até a final, tendo como destaques o atacante Caio, do São Paulo (hoje comentarista da Rede Globo) e o volante Zé Elias, do Corinthians (também comentarista, na ESPN Brasil).

Os adversários na final foram os argentinos, que contava com José Pekerman no banco de reservas e um Juan Pablo Sorín ainda não tão cabeludo se destacando dentro de campo. Em jogo tenso, a Argentina levou a melhor, fazendo 2 a 0 e conquistando o segundo título da categoria. Confira a campanha brasileira no vídeo abaixo:

Outros destaques do torneio foram o espanhol Joseba Etxeberría, artilheiro com 7 gols, que futuramente construiria longa e sólida carreira no Athletic Bilbao, além do português Nuno Gomes, que representaria a seleção lusitana nas Copas de 2002 e 2006.

Apesar do relativo sucesso no que diz respeito ao nível técnico da competição, reclamações não faltaram, principalmente vindas de equipes que foram eliminadas na primeira fase. O fato poderia ser encarado como mero choro de perdedor, mas em uma condição quase desumana como a que foi enfrentada por essas seleções, chega a ser covardia fazer tal julgamento.

Só a ponta do iceberg

O secretário-geral da FIFA, Jerome Valcke, defende a Copa em novembro (Foto: FIFA/Divulgação)
O secretário-geral da FIFA, Jerome Valcke, defende a Copa em novembro (Foto: FIFA/Divulgação)

Passando a Copa do Mundo para o mês de novembro, a FIFA poderia se livrar de um problema, mas ganharia outros. Bater de frente com os dirigentes das principais ligas pode provocar um tremendo desgaste político e econômico, e já é notório que os interesses dos comandantes da instituição não vão muito além do desejo por cada vez mais poder e dinheiro. Nesse panorama, a busca pelos petrodólares pode custar o apoio dos maiores aliados da FIFA.

Isso porque, de fato, dinheiro é algo que não falta para aqueles que estão bancando o Mundial no Catar, mas até agora o aporte financeiro não tem sido suficiente para calar os críticos e encobrir as situações alarmantes que pulam aos olhos de todos, mostrando que a escolha da FIFA foi realmente equivocada. As denúncias de escravidão, por exemplo, não podem ser simplesmente varridas para baixo do tapete.

Todas essas reclamações podem ser apenas coisa de gente que está mal (ou bem) acostumada pelo fato da última Copa ter sido um tremendo sucesso, mesmo após tantos questionamentos sobre a capacidade do Brasil para realizar o torneio. Mas os temores pela Copa do Mundo no Catar são ainda mais fortes, com sérias possibilidades da maior competição do planeta perder grande parte de seu brilho, tudo graças à ganância na hora de decidir a sede e à arrogância para admitir o erro.

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Jornalista, 23 anos. Amante do futebol bonito e praticante do futebol feio