Após bater na trave duas vezes, Curicó Unido caminha firme rumo à...

Após bater na trave duas vezes, Curicó Unido caminha firme rumo à elite chilena

Ignorando modelo de clube-empresa e treinado por velho conhecido, time interiorano é sensação no país

COMPARTILHAR

Os alçapões da América do Sul escondem histórias de perseverança e muito esforço. No Chile, onde os gramados “sofríveis” são apelidados de potreros, uma cidade sonha em ver seu maior representante na divisão de elite do país protegido pela Cordilheira dos Andes.

Famoso pela sua produção de vinhos e cerejas, que são exportados para o mundo inteiro, o município de Curicó, localizado na parte central da extensa nação sul-americana, mais precisamente na Região do Maule, alberga um clube acostumado ao sofrimento, mas que recentemente vem dando esperanças para seus torcedores: o Curicó Unido.

Fundado em 1973, o “Curi” veio preencher a lacuna da cidade de quase 200 mil habitantes que não tinha uma equipe de futebol no profissionalismo desde 1966, quando ocorreu o licenciamento do Luis Cruz Martínez, formação histórica que venceu a Copa Chile de 1962 perante a Universidad Católica, tradicional esquadrão do país.

Nos seus primeiros anos de existência, o clube da cidade das tortas (como Curicó é conhecida no Chile, o que deu ao time a alcunha de Torteros) chegou a ficar perto do acesso à elite em 1984. Mas por mudanças no regulamento teve de continuar no segundo escalão. Naquela época, o Curicó tinha em seu plantel Luis Martínez, considerado como o maior jogador da história da agremiação e o máximo artilheiro dela (69 gols).

Los Marginales - Curicó Unido
Los Marginales em peso no estádio para alentar o Curicó (Foto: Reprodução/barrabrava.net)

Já nos anos 90, a equipe sofreu bastante com o desinteresse da cidade, tanto no número de torcedores quanto na quantidade de patrocinadores, e viveu a pior fase de sua história, passando 15 temporadas na terceira divisão amadora do Chile.

A “virada de jogo” se deu com o surgimento em 1998 da barra-brava Los Marginales, que levou a população de volta ao estádio de La Granja e lotou os setores visitantes dos diversos recintos do amadorismo. Aliado a isso, o então presidente Mario Muñoz fez esforços para não deixar o clube se extinguir e conseguiu a ajuda de empresas da região para sustentar e montar um plantel de qualidade para regressar ao profissionalismo.

Esse fato se concretizou em 2005, e a nova fase do clube foi meteórica. Sob o comando de Luis Marcoleta, foi campeão da segunda categoria em 2008 e chegou à primeira divisão. A experiência inédita na elite foi breve, durando apenas uma temporada, em 2009.

Com diversos jogadores de qualidade, como Cesar Díaz, Marcos Flores e Johan Fuentes, a equipe não fez uma má campanha em sua estreia. No entanto, um erro do comandante dos Torteros – que escalou mais de seis estrangeiros em campo, sendo que só eram permitidos cinco à época – gerou uma sanção que empurrou o Curicó Unido para a zona de repescagem. Mesmo com o favoritismo, o clube da Banda Sangre não foi capaz de superar o San Luis de Quillota em dois jogos e acabou rebaixado.

A curta experiência na primeira divisão deixou os curicanos frustrados, sabendo que eles poderiam ter tido vida mais longa nela. A prova disso é que o Curicó Unido tem sempre brigado pelas primeiras posições para retornar à elite. Talvez um dos motivos para essa escalada seja o modo como o Tortero é administrado.

Diferentemente da maioria esmagadora das outras agremiações profissionais do Chile que adotou o sistema de clube-empresa, a equipe curicana continua sendo de seus sócios, que são ativos nas principais decisões tomadas pela atual gestão. Os frutos estão sendo colhidos e isso fica evidente nos últimos anos.

Curicó Unido
“Mesclado”, Curicó tem jogadores de cinco nacionalidades diferentes (Foto: Reprodução/Sergio Coilla)

Desde sua passagem na elite, o Curicó bateu na trave na disputa pelo acesso em duas oportunidades: 2013 e 2016. Agora, a diretoria aposta novamente em Luis Marcoleta, que já conquistou quatro vezes a segunda divisão, e a escolha tem dado certo.

Na temporada 2016-2017, os Torteros são o elenco a ser batido: finalizaram o primeiro turno invictos e tiveram um dos melhores aproveitamentos da história da competição.

Muito se deve também aos talentos individuais, como o meia-atacante argentino Alfredo Ábalos, destaque da campanha curicana e eleito o melhor jogador da categoria no ano passado. Além dele, a equipe conta com a experiência do zagueiro paraguaio Rodrigo Riquelme, peça importante para a obtenção do título da segundona em 2008.

O Brasil também tem participação no sucesso atual do clube do interior chileno. Nascido em solo canarinho, o roupeiro dos albirojos, Rogélio de Menezes, mais conhecido como Papito, trabalha lá há anos e se estabeleceu bem na cidade. Inclusive, ele expandiu seus horizontes e hoje é proprietário de uma loja de artigos esportivos no município.

Além de Menezes, desponta nas categorias de base o jovem Felipe Ferreira, mineiro de Ferros que já foi chamado por Marcoleta para treinar com os profissionais. Por fim, o capitão Martín Cortés, uma das referências técnicas do time, é argentino, mas teve breve experiência no futebol paraense em 2011, quando vestiu a camisa do Paysandu.

Para tornar a atual fase ainda mais especial, o Curicó Unido começou a sobressair-se diante de seu tradicional rival, o Rangers, da cidade vizinha de Talca. Centenário, o Rangers viveu grande fase em 1970, quando disputou a Libertadores, e tem sofrido nas últimas duas décadas. Hoje, os talquinos militam na segunda divisão e não conseguem fazer valer sua superioridade histórica nas recentes edições do Clásico del Maule.

Com mais da metade do campeonato disputado, o Curicó caminha a passos largos para o acesso, superando clubes tradicionais como o Cobreloa, vice-campeão da Libertadores em 1981, o qual goleou por 5 a 2. Seu principal adversário na briga pelo título, contudo, é o San Marcos de Arica, rebaixado na temporada passada.

Graças a uma sequência de 20 partidas sem derrotas, o time da cidade das tortas ficou muito próximo do Condor de Plata, troféu dado ao campeão da segunda categoria. Basta saber se, faltando seis rodadas para o fim, a equipe da Região do Maule irá confirmar o seu amplo favoritismo, realizando o sonho de sua torcida apaixonada.

Deixe seu comentário!

comentários