Hoje é China. Mas já foi Itália, Japão, Portugal, Ucrânia e Arábia;...

Hoje é China. Mas já foi Itália, Japão, Portugal, Ucrânia e Arábia; relembre

Destino de brasileiros, China não é o primeiro país a "roubar" jogadores do Campeonato Brasileiro.

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Houve um tempo em que o destino dos grandes jogadores brasileiros era a Itália. Destacou-se por aqui? Ganhou títulos por algum clube? Brilhou pela seleção brasileira? Era o suficiente para se credenciar a ser comprado por uma equipe italiana na década de 1980.

Zico, Sócrates, Falcão, Careca, Toninho Cerezo e Júnior: toda a base do time que encantou o mundo naquele tempo passou pelo futebol italiano, quase que simultaneamente. Zico na Udinese; Sócrates na Fiorentina; Falcão na Roma; Careca no Napoli; Toninho na Sampdoria e Júnior no Torino. Alguns ainda passaram por outros clubes do mesmo país.

Sócrates trocou o Corinthians pela Fiorentina nos anos 80 (Foto: Reprodução)
Sócrates trocou o Corinthians pela Fiorentina nos anos 80 (Foto: Reprodução)

O que motivou a gigantesca e até então inédita debandada no Brasil? Dinheiro, é claro. Mas também prestígio. Não bastassem as fortunas investidas nos clubes italianos, o futebol do país vivia uma espécie de auge. Culminou no título mundial de 1982, no qual eliminou a própria seleção brasileira no caminho da conquista.

A Itália era mesmo a terra dos craques. Diego Maradona, rival de Zico no posto de melhor jogador do mundo, fez história no Napoli. O país fechou a década com a dinastia milanesa. Van Basten, Gullit, Rijkaard, Baresi e Maldini formaram no Milan uma das melhores equipes de sempre.

Veio a década de 90, o futebol italiano seguiu em alta, mas a fonte aparentemente secou. A outrora massiva migração à Itália deu lugar ao domínio japonês. Naquela época, era fundada a J-League. Os nipônicos pareciam interessar-se pelo esporte e passaram a investir na contratação de jogadores de renome.

O primeiro deles? Simplesmente Zico. O Galinho encantou os japoneses e abriu as portas para os talentosos craques brasileiros. Cesar Sampaio, Zinho, Amoroso, Leonardo, Edmundo, Bebeto, Marcelinho Carioca, Djalminha, Dunga, Edilson e Luizão foram alguns dos que passaram pela terra do sol nascente.

A onda seguiu firme até meados da década de 2000. Passada a Copa do Mundo de 2002, sediada na Ásia, o Japão decidiu diminuir os investimentos em talentos estrangeiros, focando no desenvolvimento dos atletas do próprio país.

Zico fez história no Japão e motivou ida de brasileiros nos anos 90 (Foto: Reprodução)
Zico fez história no Japão e motivou ida de brasileiros nos anos 90 (Foto: Reprodução)

E os craques brasileiros? Continuaram a ir para o exterior. Veio a onda portuguesa e levou atletas às braçadas para a terrinha, como você pode conferir aqui, aqui e aqui. Já os que mais se destacavam tinham espaço nos disputados grandes centros do futebol europeu.

2008: chegou a crise. A Europa parou de investir pesado no futebol, e isso refletiu nos clubes portugueses, que passaram a comprar jogadores brasileiros de segunda linha. A crise só pareceu não ter afetado a Ucrânia, que passou a ser o destino de qualquer um que se destacasse no futebol brasileiro.

Willian, Ilsinho, Elano, Jadson, Wellington Nem, Bernard, Alex Teixeira, Fernandinho, Douglas Costa, Dentinho e Luiz Adriano foram alguns dos que formaram a imensa legião estrangeira do Shakhtar Donetsk. Metalist levou Diego Souza, Taison e Cleiton Xavier. Giuliano no Dnipro; Kleber, Dudu, Betão, Gerson Magrão e Leandro Almeida no Dinamo de Kiev.

Simultaneamente, a Ásia voltava pouco a pouco a investir nos brasileiros. Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes eram os principais destinos. Mas, apesar das fortunas, os países se limitavam a trazer craques em final de carreira. Exceção feita a nomes esporádicos como Everton Ribeiro, destaque do Cruzeiro, ou Romarinho, em evidência no Corinthians.

A bola da vez é a China. Começou timidamente, investindo em nomes de pouco peso, como Muriqui, Alan e Elkeson. Mas foi ficando séria. Marcelo Lippi. Dario Conca. Vagner Love. E até Didier Drogba, que se mudou para o país logo após conquistar a Liga dos Campeões pelo Chelsea.

Chegou ao ponto de o Tianjin Songjiang, time da segunda divisão local, desembolsar milhões em Vanderlei Luxemburgo, Luis Fabiano e agora, provavelmente, Jadson. Talvez Lucas Lima. A coisa fugiu de controle. Jucilei, Júnior Urso, Diego Tardelli, Aloísio, Mano Menezes, Paulinho, Robinho, Ricardo Goulart e Felipão engrossam a turma.

A grande diferença da migração chinesa para a italiana, japonesa, portuguesa, ucraniana e árabe é que os montantes envolvidos são absurdamente fora de realidade. Os clubes da China parecem estar, atualmente, no mesmo patamar financeiro de equipes bilionárias como Manchester City ou Paris Saint-Germain.

E, ao contrário de todos os outros países citados – exceção feita aos árabes – os resultados esportivos não parecem ser a prioridade. Os chineses não estão perto de sediar uma Copa do Mundo. Não há o mesmo interesse por futebol na China como havia no Japão na década de 90, por exemplo. Os motivos para tamanho investimento ainda são nebulosos.

É fato, porém, que o Brasil é, e deve continuar a ser, um dos principais exportadores do futebol mundial. Se hoje é a China, amanhã pode ser a Índia. A menos que nossos dirigentes esportivos sentem para conversar sobre os rumos do futebol tupiniquim. Que tentem fazer com que a permanência no Brasil seja mais interessante esportivamente e financeiramente do que a longa e imprevisível viagem para a segunda divisão chinesa.

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