Lanterna na Copa Paulista, Matonense reflete problemas estruturais no Brasil

Lanterna na Copa Paulista, Matonense reflete problemas estruturais no Brasil

No único torneio que disputa no segundo semestre, Clube de Matão tem desempenho pífio. Qual o motivo por trás disso?

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Matonense vive fase ruim na Copa Paulista (Foto: Divulgação/FPF)
Matonense vive fase ruim na Copa Paulista (Foto: Divulgação/FPF)

A Copa Paulista tem uma função regional significativa ao preencher a lacuna existente no segundo semestre dos clubes que estão à margem das quatro divisões nacionais. Além de amenizar os efeitos de um calendário mal-elaborado, o torneio também garante ao campeão o direito de ir à Copa do Brasil ou à Série D do Campeonato Brasileiro.

Em função dessa possibilidade, muitas equipes dedicam grandes esforços para a disputa do certame. Mas as dificuldades financeiras delas os problemas estruturais do futebol canarinho atrapalham o planejamento para a temporada. Com a ausência de jogos oficiais na segunda parte do ano, por exemplo, é habitual que os times de menor expressão se desfaçam de parte considerável do elenco por não ter condições de mantê-lo.

Diante da referida situação, torna-se mais compreensível o desempenho infeliz de alguns times, embora nem sempre isso seja motivo suficiente para livrá-los de críticas, sobretudo de seus torcedores. E no que diz respeito a campanhas decepcionantes, a Matonense tem se destacado negativamente, com aproveitamento de 3% até o momento.

Antes de a bola começar a rolar na Copa Paulista, o técnico Ciro Rios afirmou que o principal objetivo era revelar jogadores da base, deixando claro sua preocupação com o futuro. “O projeto é esse. Vamos trabalhar com jovens jogadores, renovamos todo o elenco e vamos trabalhar com atletas de 18 a 22 anos para que eles sejam aproveitados aqui ou em outros clubes”, explicou em junho ao site da Federação Paulista.

Mesmo sem grandes ambições, a SEMA tem feito um certame decepcionante em termos de resultados. No ano de seu 40º aniversário, o clube de Matão, dono de um vitorioso histórico nas divisões de acesso de São Paulo, somou um único ponto após 11 rodadas, graças a um empate caseiro contra o São Carlos, por 1 a 1, pela 7ª rodada.

No grupo 2 junto com Ferroviária, Rio Claro, Comercial, São Carlos, Independente e Batatais, a Matonense é a lanterna geral entre os 27 participantes, com 10 derrotas, 34 gols sofridos (o pior do torneio) e 4 gols feitos (o 2º pior, atrás do Flamengo).

Na última rodada (18/09), o clube do interior pode se igualar ao Corvo em número de pontos. Para isso, precisa torcer para uma derrota do Flamengo contra o Água Santa, fora de casa, e ganhar como visitante do Rio Claro, vice-líder.

Caso a combinação de resultados mencionada não se concretize, a Matonense terá uma das piores campanhas da história do torneio, criado em 1999 e organizado ininterruptamente desde 2001, ainda que tenha tido diferentes nomes.

Para registro, São José e Catanduvense também conquistaram um ponto solitário em 2015, mas disputaram só 8 rodadas. Dois anos antes, o São José dos Campos havia somado um único ponto antes de desistir do certame, alegando problemas econômicos.

Enfim, o cenário das divisões inferiores do futebol brasileiro é problemático e tende a se reproduzir. A falta de calendário gera a constante remodelagem/venda do elenco; os resultados negativos causam a demissão de treinadores; os talentos da base, sem perspectivas e como forma de melhorar a saúde financeira dos clubes, são negociados; Com a má fase, o público nos estádios dificilmente cresce.

Tudo isso sem entrar nos assuntos administrativos, além do apoio das federações e demais fontes de renda, como direitos televisivos. Sob essa perspectiva, as fracas campanhas como a da Matonense despertam questionamentos mais elaborados do que o simples e automático discurso do “jogador/treinador/presidente ruim.” É necessário repensar seriamente muitos tópicos para que nosso futebol evolua.

 

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Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, é apreciador do futebol latino, do teor político-social do esporte bretão e também de seu lado histórico.