O “Efeito Tostines” entre os técnicos brasileiros

O “Efeito Tostines” entre os técnicos brasileiros

Times são bons porque mantiveram seus técnicos ou mantiveram porque os times são bons?

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Líder do campeonato, Tite é um dos sobreviventes no cargo (Foto: Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians/Divulgação)
Líder do campeonato, Tite é um dos sobreviventes no cargo (Foto: Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians/Divulgação)

“Vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?”. O clássico questionamento popularizado pelas propagandas de biscoito se tornou um exemplo bastante usado em dúvidas variadas sobre o que é causa e o que é consequência, em um fenômeno conhecido como “Efeito Tostines”.

No futebol, existe uma variante da expressão bastante emblemática, principalmente levando-se em conta as frequentes trocas de treinadores nos clubes da série A. Afinal de contas, entre as 20 equipes participantes do Brasileirão, apenas três continuam com o mesmo técnico que iniciou a disputa.

Uma delas é o Avaí, que, apesar da campanha fraca e do risco de rebaixamento, ainda mantém no cargo o comandante Gilson Kleina, que chegou em março com a missão de salvar o Leão do rebaixamento no Campeonato Catarinense. Com o objetivo alcançado, ganhou créditos com a diretoria.

Mas o foco vai mesmo para os outros dois times que mantiveram seus treinadores. Corinthians e Atlético-MG, justamente os remanescentes na briga pelo título, apostaram desde o início em Tite e Levir Culpi, respectivamente, e obviamente devem deixá-los no cargo até o fim do certame.

Levir está no Galo desde 2014 (Foto: Bruno Cantini/CAM/Divulgação)
Levir está no Galo desde 2014 (Foto: Bruno Cantini/CAM/Divulgação)

É o sucesso das duas equipes que levanta a dúvida tostinesca: os times são bons porque mantiveram os técnicos ou mantiveram os técnicos porque os times são bons?

Para encontrar a resposta, é bom analisar alguns fatores. Primeiramente, é inegável que no Brasil é incomum as diretorias continuarem apostando em seus técnicos após grandes sequências de resultados negativos. Algo muito mais usual na Inglaterra, onde Arsène Wenger segue prestigiado no Arsenal mesmo após um jejum de 11 anos sem títulos da Premier League.

Outro fator importante é que neste ano, houve não apenas exemplos da falta de paciência dos clubes com os técnicos, como também de saídas por escolha do próprio “professor”.

Foi o caso de Eduardo Baptista, que trocou o Sport pelo Fluminense mesmo depois de ser mantido pelo time rubro-negro após uma sequência de 10 jogos sem vitória. Doriva, que ajudou a reerguer a Ponte Preta no campeonato, trocou a Macaca pelo São Paulo.

Dito isso, é possível reconhecer que no país a cultura da dança das cadeiras ainda predomina, promovida por ambas as partes envolvidas. Já houve 27 trocas de técnicos no Brasileirão, o maior número desde 2010, quando ocorreram 31 mudanças de comando.

No ano passado, oito times (Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Fluminense, Goiás, Internacional, São Paulo e Sport) bancaram seus treinadores até o final do campeonato. O que acontece para que, neste ano, a paciência seja menor?

Mais uma vez, hora de buscar as exceções. Tanto Corinthians como Atlético mantém há algum tempo um padrão de jogo definido, com pequenas mudanças e adaptações nos elencos no decorrer das temporadas, e poucas trocas de técnicos nos últimos anos.

O Corinthians só teve três técnicos nos últimos sete anos, com Mano Menezes e Tite se revezando no papel e uma pequena ponta de Adilson batista em 2010. O Galo teve um longo trabalho de Cuca (2011-2013), seguido por Paulo Autuori e Levir Culpi.

O sucesso dos trabalhos de Tite e Levir é inquestionável, mas permanece a dúvida sobre a possibilidade de serem mantidos ou não em caso de uma grave crise. A resposta sobre a continuidade poderia residir na capacidade de administrar elencos mais fracos e mesmo assim fazer um bom trabalho.

Muito se discute sobre os altos salários dos treinadores no Brasil, mas o fato é que na imensa maioria das vezes o cargo tem um alto nível de instabilidade e a cobrança é muito maior que o material dado aos profissionais para que trabalhem.

Com grandes jogadores no plantel, é evidente que o técnico tem mais chances de alcançar bons resultados, mas é preciso que se dê tempo até mesmo para que transformem elencos medianos em equipes vencedoras.

Em uma realidade em que o futebol brasileiro não vive seu auge tecnicamente, a solução para que um ou dois clubes se sobressaiam pode ser uma aposta certeira no comandante certo. Essa já se mostrou a chave para o título em 2015, assim como a resposta para a já citada dúvida sobre causa e consequência.

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