O encontro entre dois gênios argentinos

O encontro entre dois gênios argentinos

A equipe do Alambrado relembra o duelo entre Di Stéfano e Sívori, no jogo Real Madrid e Juventus válido pelas quartas-de-final da Copa Europeia 1961/62

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O duelo entre Juventus e Real Madrid, válido pelas semifinais da Champions League desta temporada, pode ser um pouco menos atraente do que a partida entre Bayern e Barcelona – muito em função da qualidade técnica absurda das duas equipes -, mas pelo menos no quesito rivalidade essa disputa está na frente.

São 17 partidas na história e vários confrontos por fases finais da principal competição europeia. Partidas recentes ou mais antigas marcaram uma era e colocaram diversas vezes esquadrões em campo. Além de serem os maiores campeões nacionais de seus respectivos países, ambos os times somam 12 títulos de Champions League.

Foram cinco duelos por fases decisivas do torneio e uma final – ganha pelo Real Madrid por 1 a 0 na temporada 1997/98. Nos duelos de mata-mata, vingança da Juve: são três classificações contra apenas duas do Real Madrid.

Somando todos os confrontos até hoje, são oito vitórias para cada lado e apenas um empate. Equilíbrio total e que apimenta a rivalidade. Na primeira partida das semifinais da Champions League desta temporada, disputada terça-feira passada (05), vitória por 2 a 1 da equipe italiana.

Nesta quarta-feira (13), além de desempatar o duelo, os Merengues querem garantir uma boa vitória para chegar à final e disputar a taça do torneio mais cobiçado da Europa e, quem sabe, repetir a temporada 1961/62, quando eliminaram a Velha Senhora.

A destemida Juventus e a potência espanhola

Foi nessa temporada em que os dois clubes se encontraram pela primeira vez na história da competição. Diferentemente de hoje, o equilíbrio não era tão acentuado. Pentacampeão europeu, o Real Madrid era a grande potência europeia da época. Somente o Benfica, campeão da edição 1960/61 e do craque Eusébio, fazia frente ao clube espanhol.

Mesmo assim, do outro lado a atual campeã Juventus era uma grande e respeitável força. Apesar de a tradição europeia estar em uma crescente à época, na Itália o clube já possuía 12 títulos nacionais e era o atual campeão.

Já o Real Madrid dispensava apresentações. No currículo, cinco taças consecutivas da Copa Europeia. Cinco de seis disputadas. Um recorde absoluto. Em âmbito nacional, por incrível que pareça, o jejum de conquistas da liga já durava quase 20 anos.

Em campo, as duas equipes disputavam as quartas-de-final do principal torneio europeu. Ainda jovem, mas revestido de muita simbologia, o clássico dava seus primeiros passos. O Real Madrid vinha de goleadas. Na fase de qualificação, um contundente 5 a 2 no placar agregado diante do Vasas, da Hungria.

Na primeira fase, a facilidade foi ainda maior, com o 3 a 0 fora de casa contra o Boldklubben 1913, na Dinamarca. Em Madrid, excepcionais 9 a 0, com três gols de Di Stéfano. Uma máquina que ainda contava com Puskas, Gento, Del Sol, Santamaría, Canário, Tejada, entre outros craques.

A Juventus iniciou a qualificação mais tímida. Contra o bom Panathianaikos, empate na Grécia e vitória apertada em casa por 2 a 1. Já na fase seguinte, o eficiente Partizan não foi páreo para a Velha Senhora. Vitória por 2 a 1 na Sérvia, e goleada por 5 a 0 na Itália, com o ótimo meio-campista Mora fazendo dois gols.

Duelo de argentinos

Mas o craque de Turim era mesmo Omar Sívori. A lenda argentina, que se naturalizou italiano posteriormente, era sinônimo de futebol arte. A magia sul-americana mais uma vez encantava os europeus. Aos 27 anos, “El Chiquin” estava no auge. Era, à época, o melhor jogador do mundo, escolhido pela France Football. Rivalizava com Di Stéfano, já consagrado, o rótulo de craque da Europa.

Enquanto Sívori estava no auge físico e técnico, a lenda Blanca já ostentava 35 anos e jogava muito mais com a experiência nos gramados. O outro veterano, Puskas, era um ano mais jovem e já sofria com a forma física. Santamaría era outro “velhinho” do elenco. Nitidamente, a maior geração da história do Real estava envelhecida.

Dois dos gênios do futebol argentino (Foto: Reprodução/ilcatenaccio.es)
Dois dos gênios do futebol argentino (Foto: Reprodução/ilcatenaccio.es)

Mesmo assim, o poder de fogo era imenso e nem Sívori tirava o favoritismo dos espanhóis. Na primeira partida, diante de um Comunale totalmente lotado, a experiência Madridista falou mais alto. Di Stefano, aos 24 minutos do segundo, mostrou que ainda tinha a Europa aos seus pés. Finalização tranquila com o pé direito, após receber excelente passe. O 1 a 0 foi considerado um ótimo resultado pelos espanhóis, ainda mais em uma partida tão pegada.

O enredo da partida foi o mesmo na volta: guerra. Mais de 130 mil pessoas se reuniram no Santiago Barnabeu para ver um jogo pegado e muito tenso. Em campo, mais uma vez Sivori chamava a responsabilidade. Desta vez, com o apoio mais efetivo do também craque galês John Charles – o polivalente mais famoso da história -, ele comandou todas as ações da Juventus.

Mesmo fora de casa, “El Cabezon” atuava com a habilidade de sempre. Em uma bola ajeitada na grande área, Sivori tirou do goleiro Araquistain e, de esquerda, fez o gol que levou o duelo para uma partida desempate.

Decisão em Paris

A decisão da vaga ocorreu em solo francês. O Parque dos Príncipes foi palco do duelo dos dois melhores argentinos da época. A Juventus confiava no seu craque para avançar. Porém, mais uma vez o Real Madrid mostrava que na Copa Europeia era muito forte.

Apesar de mais uma ótima atuação de Sívori, inclusive com gol, os Merengues foram cirúrgicos e ganharam por 3 a 1. Felo, Del Sol e Tejeda marcaram os gols da classificação do Real Madrid.

Grande partida e que mostrou ao mundo dois times de ótimo nível técnico e camisas muito pesadas. Confronto que deu início a uma das maiores rivalidades da Champions League.

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