A herança petroleira no futebol da Bolívia

A herança petroleira no futebol da Bolívia

Veja quais clubes têm origem relacionada ao "ouro negro"no futebol boliviano

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A Bolívia sempre contou com um território abundante em recursos naturais. Manancial da prata nas Américas durante a época da colonização espanhola, Potosí cresceu de maneira vertiginosa no auge do ciclo deste precioso metal que provia o Velho Continente e adornava ruas e construções, tamanha era sua abundância. Por volta da metade do século XVII, a cidade andina chegou a figurar entre as maiores e mais ricas do mundo.

Como as localidades que reuniam tesouros fornecidos pela mãe natureza exigiam muita mão de obra, é compreensível que tenha havido grande concentração de pessoas para trabalhar nelas – antes, em regime de servidão e escravidão imposto pelos conquistadores; séculos mais tarde, livres, mas ainda em condições análogas às supracitadas. Desta maneira, as cidades se expandiram e as culturas se desenvolveram.

Novo escudo do Club Petrolero, reformulado em 2014 (Foto: Reprodução)
Novo escudo do Club Petrolero, reformulado em 2014 (Foto: Reprodução)

No caso específico do petróleo boliviano, seu marco inicial será adotado aqui como 1936, o ano da criação da Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), empresa pública dedicada à exploração, destilação e venda do “ouro preto” e seus derivados.

Na década de 1940, o então presidente Gualberto Villarroel apoiou a construção de refinarias, oleodutos e importantes infraestruturas que tornaram o país um exportador de petróleo.

Um dos pontos mais notáveis da explosão demográfica motivada pelas riquezas locais, como citado anteriormente, foi a intensa migração. Na época, o futebol boliviano ainda vivia no amadorismo. A era profissional avançou no território nacional a partir de La Paz, em 1950, continuando por Oruro (1954), Cochabamba (1955) ,Santa Cruz (1965), Chiquisaca (1969), Potosí (1970), Beni (1976), Tarija (1985) e Pando (2014).

Entre os clubes relacionados às áreas petroleiras, o de maior destaque até hoje, embora não seja o mais antigo, é o Oriente Petrolero, fundado em 5 de novembro de 1955 por um grupo de jovens e trabalhadores da YPFB, em Santa Cruz de La Sierra, onde o esporte existia desde 1917. Não bastasse o nome ser admirável, seu escudo também é fenomenal.

Oriente Petrolero
Oriente Petrolero já participou 19 vezes da Libertadores (Foto: Reprodução/La Razón)

Os “refineros”, como também são conhecidos, possuem 5 títulos da primeira divisão, 19 participações na Copa Libertadores, 4 na Copa Sul-Americana, 2 na Copa Conmebol e 1 na extinta Copa Merconorte.

Esse currículo lhe dá o posto de terceiro time boliviano com mais participações internacionais na história, atrás de Bolívar e The Strongest.

Antes do Oriente Petrolero, já haviam surgido para o mundo o Club Independiente Petrolero, de Sucre, em 4 de abril de 1932, e Club Chaco Petrolero, de La Paz, no dia 15 de abril de 1944. O primeiro, de vestes alvirrubras e apelido El Matador, nunca conseguiu grande projeção nacional e hoje disputa a terceira categoria do futebol local.

Já o segundo, por sua vez, ostentava uniformes alviverdes e chegou a ter relativo sucesso, vencendo em 1970 o Campeonato Nacional Simón Bolivar, antecessor da atual liga boliviana (LFPB). Em 1971, sagrou-se vice-campeão e participou pela segunda vez da Copa Libertadores. Depois, perdeu espaço e milita agora na terceira divisão nacional.

Outro antecessor do Oriente foi o Club Petrolero de Cochabamba, nascido a 16 de abril de 1950 e um dos fundadores da LFPB, em 1977. Viveu seu auge na década 1970 e no princípio de 1980, quando figurou três vezes no terceiro lugar (1972, 1974 e 1981). Em 1993, decidiu se retirar da liga e a atualidade só participa da divisão cochabambina.

Fundado em 2000, Petrolero del Chaco milita na elite boliviana (Fotos: Fernando Cartagena/ La Razón)
Jovem, Petrolero del Chaco milita na elite boliviana (Fotos: Fernando Cartagena/ La Razón)

Ao longo dos anos, inclusive recentemente, surgiram novos clubes de origem petroleira.

Em 4 de setembro de 2000, foi fundado o Club Petrolero (ou Petrolero del Chaco), em Yacuiba, no departamento de Tarija.

Não demorou para o time alviverde alcançar sucesso regional (bicampeão tarijenho em 2008 e 2011) e chegar à elite.

Em 2006, houve o processo de fusão entre o Real Charcas e o Petrolero, dando origem ao Real Charcas Petrolero – nome não muito original, convenhamos. Pouco tempo depois, no entanto, uma série de procedimentos para se inscrever na Federação Boliviana resultou na adoção do antigo nome.

Na temporada 2011/12, o “Surazo del Chaco” venceu o Destroyers por 3 a 1, em Cochabamba, e conquistou o título da segunda divisão e ascendeu de maneira direta e inédita para a máxima categoria do futebol local. Apesar do rebaixamento logo em seguida, sua volta ocorreu graças ao vice-campeonato em 2013/14.

Além dos clubes mencionados, existiram e ainda existem outros de menor expressão com a mesma origem. O Oeste Petrolero de Oruro, que seria um ótimo rival geográfico para o Oriente Petrolero, é um desses casos. Mais importante do que enumerá-los, porém, é notar como a afirmação da identidade coletiva e a tomada de consciência de pertencimento são importantes na busca pelo protagonismo da própria história.

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