O surgimento da Celeste Olímpica

O surgimento da Celeste Olímpica

Potência na década de 1920, Uruguai mostrou sua força ao mundo nos Jogos de 1924 e 1928

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Nasce a volta olímpica: Uruguai dá a volta pelo campo saudando a torcida após ouro na França (Foto: Reprodução/Conmebol)

A história do futebol não se explica sem a da gloriosa seleção uruguaia. Afinal, o escrete do país sul-americano era uma potência no começo do século XX e já ostentava quatro títulos em sete edições do antigo Campeonato Sul-Americano, a atual Copa América, antes dos Jogos Olímpicos de 1924, em Paris, onde agigantou sua mística.

Mas por que falar do referido ano, especificamente, se o esporte bretão fora introduzido nos Jogos em 1900, também na capital francesa? A resposta é simples. A FIFA decidiu em congresso que se responsabilizaria pela organização dos torneios olímpicos a partir de 1924. Como a Copa do Mundo não existia, o vencedor seria reconhecido pela entidade como campeão mundial, conforme ratifica um documento de seu arquivo histórico.

Para a oitava edição das Olimpíadas, o Comitê Olímpico Uruguaio (COU), formado no ano anterior, teve como representante só um dos 17 esportes disputados à época. Mais tarde, essa decisão mostrou-se acertada, pois o selecionado charrúa fez uma grande campanha (5 vitórias em 5 jogos) e subiu no lugar mais alto do pódio – feito inédito para o país.

Na campanha rumo ao título, triunfos sobre a extinta Iugoslávia (7-0), Estados Unidos (3-0) e França (5-1), dona da casa. Na semifinal, os Países Baixos ofereceram dificuldades aos jogadores sul-americanos, mas perderam de virada (2-1), a minutos do fim. Na decisão, a vítima foi a Suíça (3-0), no Estadio Olímpico Yves-du-Manoir, em Colombes.

FICHA TÉCNICA
Uruguai 3×0 Suíça
Local: Estádio Colombes
Público: 41 mil
Árbitro: Marcel Slawick (França)
Uruguai: Mazali; Nasazzi, Arispe, Andrade, Vidal, Ghierra, Urdinarán, Scarone, Petrone, Cea e Romano
Suíça: Pulver; Reymond, Ramseyer, Oberhauser, Schmiedlin, Pollitz, Ehrenbolger, Pache, Dietrich, Abegglen e Fassler
Gols: Petrone (27/1T), Cea (18/2T) e Romano (36/2T)

Quatro anos mais tarde, com outros dois títulos de Copa América em sua galeria de conquistas, o Uruguai voltou a participar dos Jogos Olímpicos, realizados em Amsterdã, na Holanda. No entanto, a Celeste não teve a mesma facilidade encontrada na França.

As partidas iniciais foram vencidas de maneira relativamente tranquila. Novo triunfo sobre os Países Baixos (2-0) e Alemanha (4-1). Na semifinal, porém, houve, um duelo tenso contra a Itália, que saiu na frente e cedeu a virada (3-2). Na disputa pelo título, a poderosa Argentina, então atual campeã sul-americana sobre o próprio Uruguai.

Em 10 de junho, o atacante do Nacional-URU Pedro Petrone, artilheiro em Paris, abriu o placar no primeiro tempo, enquanto Manuel Ferreira, destaque do Estudiantes de La Plata-ARG, deixou tudo igual na etapa complementar. O 1 a 1 permaneceu intacto na prorrogação, o que forçou a necessidade de realizar um jogo-desempate no dia 13.

O palco foi novamente o Estádio Olímpico de Amsterdã, e novamente o Uruguai inaugurou o marcador, desta vez com Roberto Figueroa. Luis Monte descontou para a Argentina, mas o goleador Héctor Scarone, também do Nacional, marcou seu 11º tento na competição (recorde absoluto) e decretou o bicampeonato charrúa.

Até o presente momento, curiosamente, esses são os únicos ouros do Uruguai em 21 participações na história dos Jogos Olímpicos, incluindo o Rio 2016.

FICHA TÉCNICA
Uruguai 2×1 Argentina
Local: Estádio Olímpico
Público: 28.113
Árbitro: Johannes Mutter (Holanda)
Uruguai: Mazali; Nasazzi, Arispe, Andrade, Píriz, Gestido, Arremón, Scarone, Borjas, Cea e Figueroa.
Argentina: Bosio; Bidoglio, Paternóster, Médice, Monti, Evaristo, Carricaberri, Tarasconi, Ferreira, Perduca e Orsi
Gols: Figueroa (17/1T), Monte (28/1T) e Scarone (18/2T)

O sucesso dos torneios olímpicos na década de 1920 intensificou o desejo da FIFA de organizar seu próprio campeonato, decisão tomada em congresso realizado em 1928.

Oficializaram sua candidatura ao evento Hungria, Itália, Espanha, Holanda e Suécia, mas o Uruguai ganhou força em virtude de seus méritos esportivos e do centenário de sua constituição de independência, promulgada em 1830. Assim, em 1929, o país sul-americano foi definido como sede do primeiro Mundial da história.

Para receber o torneio, foi construído o Estádio Centenário, em Montevidéu, que possui quatro setores com nomes sugestivos. A lateral oeste é chamada de América, e a leste, Olímpica. Já o setor norte é denominado Colombes, enquanto o sul é o Amsterdã. Homenagens aos êxitos futebolísticos e às cidades onde eles foram obtidos.

Por ironia do destino, a seleção uruguaia não se classificou para os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, deixando escapar a oportunidade de repetir o ouro no torneio que o projetou para o mundo e de se consagrar na terra onde realizou sua maior façanha, o Maracanazo.

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