Os ditadores e o futebol – Parte 1

Os ditadores e o futebol – Parte 1

Há quem pense que o futebol seja apenas um esporte, quando na verdade ele vai muito além disso

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O futebol vai muito além das quatro linhas. Quem diz que o esporte bretão se limita “a um bando de homem correndo atrás de uma bola” se engana redondamente. Trata-se de algo muito mais complexo e intenso, que proporciona ao torcedor imensa alegria ou profunda tristeza. Mais do que isso, o futebol pode ser usado inclusive por governantes autoritários como importante manobra política. E é sobre eles que iremos falar nesta série de três capítulos do Alambrado. Confira a primeira parte de “Os ditadores e o futebol”.

Adolf Hitler (Schalke 04)

Dizem que o ditador alemão jamais assistiu a uma partida do Schalke (Foto: Reprodução)
Dizem que o ditador alemão jamais assistiu a uma partida do Schalke (Foto: Reprodução)

O austríaco Adolf Hitler, líder do Nazismo e um dos principais responsáveis pelas mortes de milhões de judeus, torcia para o tradicional Schalke 04, da Alemanha. Localizado em Gelsenkirchen, os Azuis Reais eram o time preferido dos trabalhadores alemães e adeptos do regime nazista. Não à toa, Hitler tinha simpatia pelo clube, pois este viria a ser um grande instrumento de propaganda de seu governo autoritário.

Fundado em 1904, o Schalke só conquistou seu primeiro título de expressão em 1933, com o Campeonato Alemão – coincidentemente, no ano em que Hitler já detinha o poder no país europeu. Foi sob o regime nazista que os Azuis Reais venceram seis dos sete títulos da Bundesliga. Além disso, faturaram também a Copa da Alemanha em 1938.

Jogadores do Schalke fazem saudação típica do nazismo (Foto: Reprodução)
Jogadores do Schalke fazem saudação típica do nazismo (Foto: Reprodução)

De certa maneira, pode-se dizer que o nazismo fez algo de bom para o futebol alemão. As coisas se modernizaram, as torcidas começaram a demonstrar maior interesse e muitos jogadores passaram a se dedicar mais ao esporte. Hitler, então, viu uma oportunidade de difundir seus ideais usando os craques do Schalke 04 como garotos-propaganda, como Ersn Kuzorra e Fritz Stepan, que eram alguns dos principais nomes da equipe.

Naquela época, com o anexo da Áustria à Alemanha, a Bundesliga tinha como participantes times austríacos, como Rapid Viena e Admira Viena, o que gerava bons embates dentro de campo. Uma pena que não ficasse apenas aí. Por conta da rivalidade entre os times, a maioria das partidas era marcada por lances violentos e brigas.

Houve um goleiro austríaco que, de tantas pancadas que levou, acabou morrendo. Outra vez, um dos maiores nomes do futebol austríaco, Matthias Sindelar, morreu misteriosamente em seu apartamento. Reza a lenda que ele foi assassinado pelos nazistas porque havia se recusado a defender a seleção alemã.

Coincidência ou não, após a queda de Hitler, o Schalke 04 passou por momentos difíceis e viveu grandes períodos sem títulos, dando oportunidade para outras equipes crescerem no futebol nacional, como o Borussia Dortmund, que era contra o regime nazista e durante o regime era boicotado.

Ernesto Geisel (Vasco / Botafogo)

Geisel: dividido entre dois alvinegros (Foto: Reprodução)
Geisel: dividido entre dois alvinegros (Foto: Reprodução)

Presidente do Brasil entre 1974 e 1979, durante o regime militar, Geisel, assim como Hitler, não era muito ligado ao futebol. Alguns jornalistas dizem até mesmo que ele não gostava do esporte. Contudo, esforçava-se para se aproximar dessa paixão nacional. Apesar de ser gaúcho, não torcia para Grêmio, Internacional, ou qualquer outro equipe do Rio Grande do Sul. O ditador era ligado ao futebol carioca.

Tal motivo é relacionado ao fato de Geisel ter estudado na Escola Militar de Realengo, no Rio de Janeiro, ou por ter servido o Grupo-Escola de Artilharia, na Vila Militar, também situada no Rio, onde ele tinha afeto pelo Botafogo. O vínculo entre ambos cresceu devido à cessão de um terreno em São Gonçalo à Estrela Solitária.

A mesma situação ocorreu com o Vasco da Gama, do qual Geisel foi nomeado presidente de honra, tendo inclusive feito um discurso improvisado em pleno Palácio do Planalto no qual reiterou sua admiração para com o Botafogo, mas que também passaria a torcer pelo Gigante da Colina.

Nicolae Ceausescu (Steaua Bucareste)

Ditador comunista torcia para o Steaua Bucareste (Foto: Reprodução)
Ditador comunista torcia para o Steaua Bucareste (Foto: Reprodução)

Para finalizar a primeira parte desta série, falemos do ditador comunista Nicolae Ceausescu, que governou a Romênia de 1967 a 1989. Sua história política é semelhante à de seu clube do coração, o Steaua Bucareste. Ceamusescu começou sua carreira política durante a II Grande Guerra Mundial, enquanto o maior clube da Romênia surgiu dois anos após o fim dos conflitos, em 1947.

Até os anos 1960, o Steaua possuía o nome de Associação Desportiva do Exército. Antes mesmo da chegada de Ceausescu ao poder, em 1967, o clube já havia ganhado diversos títulos, sendo uma das principais equipes do país. Mas seu auge ocorreu durante o governo ditatorial de Ceausescu, que apoiava seu time do coração de todas as maneiras.

Assim, com um grande apoio, o Steaua Bucareste acabou desbancando rivais como Rapid Bucareste e o Dínamo Bucareste em inúmeras disputas. Nesse período, o Steaua também conquistou vários títulos tanto do Campeonato Romeno quanto da Copa da Romênia (dos quais é hoje o maior campeão, com 26 e 22 taças, respectivamente).

O ápice aconteceria na temporada 1985-86, quando o clube conquistou a Copa da Romênia, o Campeonato Romeno e, o principal, a Liga dos Campeões da Europa. A final ocorreu em Sevilha, na Espanha, no dia 7 de maio de 1986. O adversário era “apenas” o Barcelona do alemão Bernd Schuster, e o título foi definido nas penalidades máximas.

A orelhuda, os ditadores e o elenco do Steaua campeão da Liga dos Campeões (Foto: Reprodução)
A orelhuda, os ditadores e o elenco do Steaua campeão da Liga dos Campeões (Foto: Reprodução)

O goleiro romeno Helmuth Dackadam defenderia os quatro pênaltis cobrados pelos atletas do Barça, um feito épico que dava um título inédito ao Steaua, o primeiro clube do Leste Europeu a conquistar a Liga dos Campeões. Para a disputa da Supercopa Europeia, o Steaua fez uma importante contratação: a de Gheorghe Hagi. O maior jogador da história da Romênia foi fundamental na conquista do título. Fundamental também foi Ceausescu, que ordenou a transferência do atleta que atuava no Sportul de Bucareste.

Mesmo com a morte por fuzilamento de Ceausescu em 1989, o Steaua seguiu forte e conquistando títulos importantes na Romênia.

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