Procura-se pátria para estes craques

Procura-se pátria para estes craques

Listamos alguns dos principais jogadores de países que já não existem mais

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Ao longo da história humana, são incontáveis as pátrias que deixaram de existir – seja por motivos econômicos, culturais ou bélicos. Por consequência, o mundo dos esportes é inevitavelmente afetado, já que promove competições entre países a nível regional, continental e mundial.

União Soviética, Checoslováquia e Iugoslávia são os melhores exemplos. As três extintas nações marcaram época em distintos períodos da história do futebol, mas acabaram dissolvidas em vários países. Como decidir quem herdaria as conquistas de cada um desses times? Impossível.

O prejuízo para a cultura do esporte também respinga nos ídolos. Os russos podem se orgulhar em ter como grande referência Lev Yashin, possivelmente o melhor goleiro que já passou pelo futebol? Talvez não, uma vez que o ex-atleta nasceu e morreu na União Soviética. Abaixo, há alguns exemplos de craques sem pátria, que hoje precisam ser submetidos a anacronismos para serem lembrados como heróis de alguma nação – gostinho esse que já sentiram no passado.

Antonín Puč – Tchecoslováquia

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Tchecoslovaco Puc era uma das estrelas do futebol da década de 30 (Foto: Reprodução)

O clássico atacante tem relação com dois países que não existem mais. O primeiro é o Império Austro-Húngaro, do qual fazia parte a cidade em que nasceu. O segundo é a Tchecoslováquia, que absorveu o território da sua cidade.

Puc não só representou a Tchecoslováquia na sombria Copa do Mundo de 1934, como também fez gol na decisão contra a Itália, quando seu time foi derrotado por 2 a 1. Em clubes, marcou época no Slavia Praga, pelo qual anotou mais de 100 gols.

Oldřich Nejedlý – Tchecoslováquia

Tal como Puc, só que ainda mais famoso, Nejedlý, nascido no finado Império Austro-Húngaro, era a estrela do Sparta Praga, rival do Slavia de Puc. Formou um extraordinário ataque com o outrora adversário na seleção tchecoslovaca de 34, levando a equipe à final daquela Copa.

Pode-se dizer que Nejedlý, tido como o maior futebolista do extinto país, foi um dos maiores superstars da bola enquanto o futebol de seleções ainda engatinhava. No Mundial de 34, terminou como artilheiro, com 5 gols. Três deles foram anotados sobre a Alemanha nazista na semifinal, quando sua equipe venceu por 3 a 1.

Nejedlý marcou três gols sobre a Alemanha nazista na semifinal da Copa de 34 (Foto: Reprodução)
Nejedlý marcou três gols sobre a Alemanha nazista na semifinal da Copa de 34 (Foto: Reprodução)

Stjepan Bobek – Iugoslávia

Bobek foi um dos grandes nomes do futebol nas décadas de 40 e 50 (Foto: Reprodução)
Bobek foi um dos grandes nomes do futebol nas décadas de 40 e 50 (Foto: Reprodução)

Maior jogador iugoslavo da história, Bobek é o máximo artilheiro de sua seleção, com 38 gols (e, diga-se, jamais terá o posto roubado outro atleta). Etnicamente croata, o atacante era o líder de uma grande geração do antigo país, que disputou duas Copas do Mundo (1950 e 1954) e foi medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 48 e 52.

Tornou-se o maior nome da história do Partizan, com mais de 400 jogos e mais de 400 gols, média bastante alta. Mas Bobek ia além dos números. Era extremamente técnico e chamava a atenção por seus dribles e lançamentos longos, muito diferenciados de quase todos os atletas da época. Seus malabarismos em campo influenciaram ninguém menos que Ferenc Puskás, como o próprio húngaro chegou a admitir em entrevistas.

Lev Yashin – União Soviética

Para os mais antigos, o Aranha Negra é o maior goleiro da história do futebol. Chegou a ser premiado, em 1963, com a Bola de Ouro da France Football. Até hoje, o único da posição a receber a honraria. Goleiro de um time só, fez história no Dínamo de Moscou, clube pelo qual jogou entre 1950 e 1970.

Lev Yashin virou lenda mundial defendendo a seleção soviética (Foto: Reprodução)
Lev Yashin virou lenda mundial defendendo a seleção soviética (Foto: Reprodução)

Sua característica mais marcante era a saída do gol. Pelo alto ou pelo chão, Lev tinha uma capacidade única para se antecipar ao adversário. Não era de ficar embaixo das traves esperando as finalizações para então espalmar. Era também um exímio pegador de pênaltis. Reza a lenda que teria defendido mais de 150 ao longo da carreira.

A nível internacional, consagrou-se jogando pela União Soviética. Fez 78 jogos e esteve em quatro Copas do Mundo: 58, 62, 66 e 70, sendo as três primeiras como titular. Entretanto, é um dos poucos da lista que não viveu o suficiente para acompanhar a dissolução de seu país. Morreu em 1990, um ano antes de se tornar definitivamente russo – Yashin nasceu, morou e faleceu em Moscou, e o fim da URSS foi declarado oficialmente em 1991.

Josef Masopust – Tchecoslováquia

Masopust era a estrela do time tchecoslovaco vice-campeão mundial em 62, no Chile (Foto: Reprodução)
Masopust era a estrela do time tchecoslovaco vice-campeão mundial em 62, no Chile (Foto: Reprodução)

O antigo “todo-campista” faleceu há pouco mais de um mês, aos 84 anos, na República Tcheca. Mas nasceu em 1931, na Tchecoslováquia. O país deixou de existir a partir de 1993, se dissolvendo entre tchecos e eslovacos.

Mas Masopust, mesmo tendo nascido na parte tcheca da federação, será sempre um patrimônio tchecoslovaco. Marcou época pela seleção, alcançando seu auge em 1962. Naquele ano, foi a estrela do time na campanha do vice-campeonato. Chegou a marcar o primeiro gol da final – o Brasil viraria o jogo para 3 a 1. Bastou para ser lembrado por Pelé na famigerada Fifa 100, lista com 125 os maiores futebolistas vivos – na opinião do Rei.

Dragan Džajić – Iugoslávia

Mito da seleção iugoslava, Dzajic sobrou nas décadas de 60 e 70
Mito da seleção iugoslava, Dzajic sobrou nas décadas de 60 e 70

Um dos maiores ídolos do Estrela Vermelha, Dzajic era um ponta-esquerda goleador, mas completo. Driblava, passava, cruzava e cobrava faltas com muita técnica, sendo tido como um dos principais atletas de sua época.

Entretanto, pesou para sua popularidade nos dias de hoje a fraca geração iugoslava que o rodeava na época. Džajić era exceção em seu país – quase como um Ibrahimovic para a Suécia nos dias de hoje, anacronismos à parte.

Mesmo assim, jogou a Copa de 74 e a Euro de 68, marcando gols em ambos os torneios. Neste último, ainda disputado entre apenas quatro equipes, fez dois gols em três jogos disputados, mas não impediu a derrota para a Itália na final.

Oleh Blokhin – União Soviética

Hoje ucraniano, Blokhin defendeu a União Soviética em seus tempos de jogador (Foto: Reprodução)
Hoje ucraniano, Blokhin defendeu a União Soviética em seus tempos de jogador (Foto: Reprodução)

Matador, Blokhin é um dos maiores ídolos da história do Dínamo de Kiev, time de sua cidade. Foram mais de 200 gols marcados em quase 20 anos de carreira no time ucraniano – do qual é o maior artilheiro de todos os tempos.

Mas não foi pela seleção ucraniana que Blokhin fez sua carreira internacional. O atacante defendeu a União Soviética, sendo um dos principais atletas da fase final do time. Não bastasse ser o goleador máximo do Dínamo, foi também da seleção soviética, com 42 gols.

Rinat Dasayev – União Soviética

Além de Yashin, a União Soviética podia se orgulhar de ter contado com outro grande goleiro da história do jogo. Dasayev chegou alguns anos depois da Aranha Negra, mas se consagrou em um rival do Dinamo: o Spartak Moscou.

Com a camisa da seleção, o arqueiro brilhou nas Copas de 82 e 86, além da Eurocopa de 1988. Foram 91 jogos pelo time soviético, o qual defendeu pela última vez em 1990, um ano antes de seu fim. Se aposentou justamente em 1991, com apenas 34 anos – idade relativamente curta para um goleiro.

Herdeiro de Yashin, Dasayev foi um dos melhores arqueiros da década de 80 (Foto: Reprodução)
Herdeiro de Yashin, Dasayev foi um dos melhores arqueiros da década de 80 (Foto: Reprodução)

Pelos brasileiros, é lembrado até hoje pelas incontáveis defesas feitas contra o extraordinário ataque do Brasil na Copa de 1982. Mesmo assim, não conseguiu impedir a derrota soviética por 2 a 1, logo na primeira rodada da fase de grupos.

Siniša Mihajlović – Iugoslávia

Zagueiro Mihajlovic foi um dos maiores batedores de falta de sua época (Foto: Reprodução)
Zagueiro Mihajlovic foi um dos maiores batedores de falta de sua época (Foto: Reprodução)

Menos badalado que os jogadores acima, Mihajlović era um zagueiro técnico, que marcou época na geração de ouro iugoslava de 87. Sua característica mais marcante era a cobrança de faltas, responsável por grande parte dos mais de 70 gols que anotou na carreira. É tido como um dos maiores especialistas na função que já passaram pela Serie A italiana, e, talvez, do mundo.

Pela seleção, o zagueiro, que é etnicamente sérvio, registrou mais de 60 jogos e dez gols, tendo participado da Copa do Mundo de 1998, na França, e na Eurocopa de 2000, sediada na Bélgica e na Holanda.

Predrag Mijatović – Iugoslávia

Ídolo do Real Madrid, Mijatovic defendeu duas seleções que não existem mais: Iugoslávia e Sérvia e Montenegro (Foto: Reprodução)
Ídolo do Real Madrid, Mijatovic defendeu duas seleções que não existem mais: Iugoslávia e Sérvia e Montenegro (Foto: Reprodução)

Outro remanescente da geração de 87 da Iugoslávia, Mijatović alcançou seu auge em 1998. Não apenas por participar da Copa daquele ano, mas também por ter feito o histórico gol do título da Liga dos Campeões na vitória do Real Madrid sobre a Juventus, por 1 a 0, quebrando um jejum de 32 anos do clube espanhol na competição.

No ano anterior, o atacante por pouco não havia sido eleito melhor jogador do mundo. Ficou atrás apenas de Ronaldo, então na Inter de Milão, e à frente de Zinedine Zidane, que mais tarde seria vice-campeão da Champions.

Além da Iugoslávia, Mijatović chegou a defender outra seleção extinta do futebol mundial: antes de sua aposentadoria internacional, em 2003, fez alguns jogos pelo time de futebol de Sérvia e Montenegro, que mais tarde também se dissolveria. Hoje, o ex-jogador é cidadão montenegrino.

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