Violência e futebol não rimam

Violência e futebol não rimam

"Futebol e Sociedade: as manifestações da torcida", de Heloisa Reis, busca entender o que está por trás da violência no futebol.

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Quando Heloisa Reis entra na sala, tudo silencia. Uma pose carrancuda, forte, e ao mesmo tempo leve. Características perfeitas para quem escreve sobre futebol, e mais, para quem estuda futebol como a professora.

Futebol e Sociedade: as manifestações da torcida já tem quase 10 anos desde seu lançamento, mas continua sendo uma obra muito atual. Como é de praxe da escola acadêmica, está disponível online, até porque é a tese de doutorado de Heloisa Reis.

Apesar de ser uma tese, o livro tem uma linguagem bem simples e um tema pretensioso: estudar a violência entre as torcidas de futebol. A base teórica usada por Heloisa é vasta, mas dá pra dizer que sua principal referência é a sociologia figurativa de Norbert Elias. Criador de um conceito (e um livro) chamado processo civilizatório, Elias afirma que a civilização é o maior potencial da humanidade. No entanto, o caminho até ela fez a gente abandonar alguns instintos e sentimentos, como a raiva e a agressividade. Por isso soltamos nossos cachorros no estádio, entende? Simplista, mas ilustrativo.

Nem eu nem Heloisa queremos justificar a violência nos estádios. Ao contrário disso, pois o livro é dedicado a explicar porque a violência é tão inerente ao futebol. Primeiro, porque essa agressividade está presente na sociedade, principalmente porque vivemos em uma civilização doutrinada por valores masculinos. Segundo, porque a profissionalização do futebol transformou a vitória em obrigação e o futebol em um espetáculo altamente competitivo, uma rinha de galos disfarçada.

Uma crítica que Heloisa faz envolve a organização dos campeonatos. Para ela, estádios com infraestrutura precária e pouca organização na venda de ingressos ajudam a explicar parte da violência nos estádios, assim como pouco treinamento da segurança dos estádios. O tema é mais do que atual, já que o Brasil é recordista em mortes no futebol. 

Um caminho possível, descoberto por Heloisa em sua incursão por terras europeias. Lá, a sociedade se manifestou após a morte de 42 pessoas durante a final da Copa da Europa de 1985, entre Juventus e Liverpool, realizada na Bélgica. Criado no mesmo ano, o Tratado Europeu envolveu toda a sociedade: políticos, torcedores, dirigentes e jogadores, e trouxe medidas preventivas simples como organização da venda de ingressos, treinamento policial, reforma das arenas e impunidade menor. Aqui, Heloisa sugeriu a criação da Comissão Nacional de Prevenção da Violência e Segurança nos Espetáculos Esportivos. A própria Heloisa conta que estudos avançaram nos anos de 2005 e 2006, mas picuinhas políticas pararam o projeto.

Como é comum em pesquisa universitária, Heloisa Reis não para nos problemas, mas propõe soluções! 40 medidas, ao todo: organização do transporte público, comissões específicas de prevenção a violência e o diálogo constante entre essas comissões, as torcidas organizadas e a universidade são alguns pontos fortes dessas medidas.

Infelizmente pouco evoluímos de 2006 pra cá e o livro de Heloisa continua atual. Fica a torcida para que ele seja cada vez mais ultrapassado.

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Careca cabeludo.