Willie Johnston, o desordeiro de Glasgow

Willie Johnston, o desordeiro de Glasgow

Habilidoso e explosivo, meia escocês colecionou polêmicas na carreira

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O meia durante seus anos no Glasgow Rangers (Foto: Reprodução)
O meia durante seus anos no Glasgow Rangers (Foto: Reprodução)

Durante a década de 1970, a Escócia contou com uma das melhores gerações de sua história no futebol. Graeme Souness, Archie Gemmil, Joe Jones e Kenny Dalglish, entre outros eram estrelas de grandes clubes ingleses e integrantes da seleção que iria para a Copa do Mundo da Argentina, em 1978, prometendo fazer bonito.

Em meio a todos esses nomes estava Willie Johnston, um experiente meia de 31 anos que teria seu destino mudado logo na primeira partida daquele Mundial, afetando também o futuro dos britânicos na competição. Mas para entender melhor a história de Johnston é melhor contá-la desde o início.

Nascido em Glasgow, Johnston teve que optar logo cedo por um dos lados dominantes da Escócia. Acabou escolhendo os azuis do Rangers, onde iniciou sua carreira em 1964. Atuando sempre aberto pelo lado esquerdo, chamava atenção pela velocidade e facilidade para dribles longos, deixando os marcadores comendo poeira.

A década de 1960 não foi lá muito proveitosa para os fãs do Rangers. Depois de conquistar um bicampeonato em 1964, a equipe viu seu rival histórico, o Celtic, tornar-se hegemônico no país, levando nove títulos seguidos e ainda uma Copa dos Campeões em 1967 como cereja do bolo.

O Rangers precisava responder de alguma forma, mesmo que mais modesta, e Johnston foi fundamental para reerguer a honra do clube em 1972. Já estabelecido como um dos ídolos do time, conquistou a torcida de vez ao marcar dois gols na vitória por 3×2 contra o Dínamo de Moscou na final da Recopa Europeia.

Pelo WBA, Johnston conquistou a torcida (Foto: Reprodução)
Pelo WBA, Johnston conquistou a torcida (Foto: Reprodução)

O desempenho na decisão chamou atenção dos “primos ricos” da Inglaterra. Entre eles, o West Bromwich Albion, que pagou a maior quantia de sua história até então (138 mil libras) para contratar o meia canhoto.

Pelos Hawthorns, Johnston manteve o bom desempenho, tornando-se rapidamente um dos favoritos da torcida apesar (ou por conta) de seu estilo explosivo. Foi expulso algumas vezes, normalmente depois de revidar pancadas dos marcadores insatisfeitos com seus dribles.

Chegou a tomar um gancho da Federação Inglesa depois de desferir um chute no árbitro que havia lhe expulsado. Mas não era só nervosismo: Johnston era tão próximo da torcida que não se importava em tomar um gole de cerveja dos fãs à beira do campo. Durante o jogo!

No entanto, o comportamento “diferente” não impediu que o técnico Ally Mcleod o convocasse para o grupo da Escócia que disputaria a Copa do Mundo de 1978. E é aí que voltamos ao ponto de virada na carreira do meia.

A Escócia era favorita para passar de fase em uma chave que ainda contava com Holanda, Peru e Irã. No entanto, a estreia, contra o Peru, foi desanimadora. Depois de sair na frente com um gol de Joe Jordan, os escoceses sucumbiram ao talento de Téofilo Cubillas, que marcou duas vezes na vitória peruana por 3×1.

Quando soou o apito final, fiscais da FIFA entraram em campo chamando Dalglish e Johnston para fazer o exame antidoping. Na época, os protocolos oficiais não eram lá muito “padrão FIFA”, o que permitiu que Dalglish fugisse do teste. Johnston acabou fazendo.

Não demorou para que a organizadora da Copa divulgasse o resultado: a análise da urina indicou traços de um estimulante, presente no remédio Reactivan, que o jogador havia tomado durante a semana por conta de dores de cabeça. A explicação não convenceu o tribunal. Johnston estava fora da Copa, e da seleção escocesa.

Era apenas o segundo caso de doping na história das Copas, depois de Ernst Jean-Joseph, do Haiti, em 1974. Johnston reclamou da falta de apoio da federação de seu país e se sentiu injustiçado, já que o remédio havia sido prescrito pelo médico da delegação da Escócia. Mas seu destino pela seleção estava selado ali.

O escândalo acabaria sendo abafado pelos diversos incidentes indicando favorecimento à seleção argentina naquela Copa, incluindo, ironicamente, suspeitas de doping dos jogadores argentinos.

Abalados com o que havia acontecido com o companheiro, os jogadores da Escócia não conseguiram se recuperar na competição. Um surpreendente empate com o estreante Irã na segunda rodada fez com que a vitória contra a forte Holanda, no jogo derradeiro, não valesse de nada.

Depois da Copa e com o peso de um doping nas costas, a carreira de Johnston parecia próxima do fim. Mas ele ainda encontraria tempo para continuar aprontando das suas. Após um breve empréstimo para o Birmingham City em 1979, acabou se transferindo para o Vancouver Whitecaps, onde se tornaria ídolo por razões incomuns.

Em um jogo contra o Seattle Sounders, marcou o gol da vitória e comemorou em frente ao banco de reservas dos rivais, virando-se de costas para eles e abaixando o calção. O tempo fechou, e a partir daí criou-se uma certa rivalidade entre as duas equipes.

O caso rendeu ao meia uma suspensão de um ano da Liga Norte Americana, fazendo com que Johnston voltasse ao Rangers. Em um duelo contra o Aberdeen, pisou na garganta de um rival, que precisou de respiração boca a boca para ser reanimado.

As confusões haviam chegado longe demais. Johnston terminou a carreira depois de passar rapidamente por times de Hong Kong até parar de vez no East Fife, de sua terra natal. O bad boy de Glasgow finalmente estava cansado.

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Jornalista, 23 anos. Amante do futebol bonito e praticante do futebol feio