A maldição escarlate

A maldição escarlate

América de Cali, da Colômbia, disputou quatro finais de Libertadores e perdeu todas

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Equipe do América em 1986; Clube possui apelido de "escarlate" em função da cor de seu uniforme (Foto: Reprodução/El Tiempo)
Equipe do América vice-campeã continental em 1985; clube possui apelido de “escarlate” em função da cor de seu uniforme (Foto: Reprodução/El Tiempo)

Desde a criação da Copa Libertadores da América em 1960, 25 equipes diferentes já tiveram a honra de levantar o troféu mais cobiçado do continente. Um fato curioso em relação ao torneio, porém, envolve um clube que jamais deu a volta olímpica. Trata-se do América de Cali, recordista de finais perdidas entre aqueles que nunca foram campeões.

Em uma das épocas mais gloriosas de seus 88 anos de história, os Diabos Vermelhos, como também são apelidados, dominavam o cenário nacional e conseguiram alcançar a última fase da Libertadores durante três temporadas consecutivas, de 1985 a 1987. A quarta decisão que o time protagonizou no certame continental ocorreu em 1996.

Na década de 1980, a equipe era treinada por Gabriel Ochoa Uribe, que faturou cinco títulos colombianos seguidos, feito inédito no futebol do país até a atualidade. Das principais estrelas que Uribe comandou destacam-se Roberto Cabañas, Anthony de Ávila, Ricardo Gareca, Henry Viáfara, Willington Ortiz, Julio Falcioni e Juan Battaglia.

Em 1985, o América enfrentou na primeira fase da Libertadores o Cerro Porteño-PAR e o Guaraní-PAR, além do Millonarios-COL. Empatou quatro jogos e venceu os paraguaios nas duas últimas rodadas, classificando-se na liderança do grupo. Na fase seguinte, encarou Peñarol-URU e El Nacional-EQU, somando dois triunfos, um empate e um revés.

Com os resultados, o time de Cali avançou para a final contra o Argentinos Juniors, que na segunda fase havia eliminado Independiente-ARG e Blooming-BOL. Deste modo, o América tinha a oportunidade de ganhar a taça que o Deportivo Cali-COL, seu rival histórico, não havia conquistado em 1978, diante do Boca Juniors-ARG.

Na partida de ida, os colombianos atuaram como visitantes e perderam por 1 a 0. Na volta, conseguiram devolver o placar em casa, forçando o terceiro duelo em campo neutro, em Assunção, no Paraguai. Quem levou a melhor foram os argentinos, que venceram por 5 a 4 na disputa de pênaltis após empate por 1 a 1 no tempo regulamentar.

Com a experiência do vice-campeonato, o América era um dos favoritos da competição em 1986. No mesmo grupo de Deportivo Cali-COL, Cobresal-CHI e Universidad Católica-CHI, o time comandado por Uribe garantiu o primeiro lugar com três vitórias e três empates. Na fase seguinte, disputou vaga na final com Olimpia-PAR e Bolívar-BOL.

Para repetir a decisão do ano anterior, bastaram dois triunfos, um empate e uma derrota, mesmos resultados que o River Plate obteve diante de Argentinos Juniors e Barcelona de Guayaquil-EQU. Ao contrário da temporada passada, a primeira final foi realizada na cidade de Cali, no Estádio Pascual Guerrero, com vitória do River sobre o América por 2 a 1.

No jogo de volta, no Estádio Monumental de Núñez, em Buenos Aires, o esquadrão argentino ganhou por 1 a 0, alcançando o primeiro título depois de amargurar duas medalhas de prata. Ainda no ano em questão, o clube portenho também venceu a Copa Intercontinental sobre o Steaua Bucareste-ROM, campeão europeu.

Sem a taça e com a frustração de mais um vice-campeonato, coube ao América manter algumas peças importantes para o ano de 1987, como Falcioni, Ortiz, Battaglia, Cabañas e Gareca, sendo que este se tornaria o artilheiro daquela edição da Libertadores com sete gols. Mas nem mesmo o apurado e talentoso setor ofensivo foi o suficiente.

Na primeira fase, os Diabos Vermelhos voltaram a enfrentar o conterrâneo Deportivo Cali, além do The Strongest-BOL e do Oriente Petrolero-BOL. A equipe conseguiu avançar em primeiro do grupo com três vitórias, dois empates e uma derrota. Depois, acumulou dois triunfos e dois empates diante de Cobreloa-CHI e do Barcelona-EQU.

Já o Peñarol, tetracampeão do certame àquela altura, passou na fase inicial por Progreso-URU, Alianza Lima-PER e San Agustín-PER. Na sequência, obteve duas vitórias, um empate e uma derrota no grupo que contava com River Plate, atual dono da taça, e do Independiente-ARG, que ostentava o rótulo de heptacampeão continental.

Na primeira final, o América se impôs em Cali e venceu os uruguaios por 2 a 0. Na partida de volta, no Estádio Centenário, em Montevidéu, o Peñarol recuperou-se e, de maneira dramática, conseguiu a virada por 2 a 1 nos últimos minutos, levando a definição do campeonato para o Estádio Nacional de Santiago, no Chile.

Com o resultado, o grito redentor continuava preso na garganta dos colombianos. Grito que a cada minuto se desenvolvia ao ponto de explodir e estremecer a capital chilena. O jogo estava tenso – houve três expulsões – e só foi decidido na prorrogação. No último minuto, Diego Aguirre, hoje técnico do Internacional, fez o gol do Peñarol.

O resultado negativo abriu ainda mais a ferida do clube na Libertadores. A oportunidade para cicatrizá-la viria somente nove temporadas depois, em 1996. A consagração seria mais especial pelo fato de o adversário ser o River Plate, algoz há dez anos.

Na fase de grupos, os Diabos Vermelhos foram líderes com quatro vitórias e duas derrotas, medindo forças com Junior-COL, San José-BOL e Guabirá-BOL, que ficou na lanterna. Por outro lado, o time argentino obteve os mesmos resultados diante de San Lorenzo-ARG, Minervén-VEN e Caracas-VEN, último colocado.

No caminho até a final, o América conseguiu eliminar Minervén, Junior e Grêmio, enquanto o River Plate tirou do caminho Sporting Cristal-PER, San Lorenzo-ARG e Universidad de Chile. Assim como em 1986, o pontapé inicial foi dado em Cali, onde os mandantes venceram por placar mínimo. Em Buenos Aires, o resultado foi bastante indigesto.

Atuando diante de sua fanática torcida no Estádio Monumental de Núñez, o River Plate contou com o faro goleador de Hernán Crespo para reverter a desvantagem e fazer 2 a 0, garantindo o bicampeonato e mais uma vez frustrando as ambições do América, que pela quarta vez ficou a um passo da glória eterna.

Na história da Copa Libertadores, só o Peñarol-URU foi mais vezes vice-campeão (5), seguido por Boca Juniors-ARG (4) e Olimpia-PAR (4). A diferença é que o clube uruguaio venceu cinco edições do torneio, ao passo que o time argentino possui seis troféus e o paraguaio, três. A maldição, por enquanto, continua assombrando o infortunado América.

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