Os ditadores e o futebol – Parte 2

Os ditadores e o futebol – Parte 2

Há quem pense que o futebol seja apenas um esporte, quando na verdade ele vai muito além disso

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O futebol vai muito além das quatro linhas. Quem diz que o esporte bretão se limita “a um bando de homem correndo atrás de uma bola” se engana redondamente. Trata-se de algo muito mais complexo e intenso, que proporciona ao torcedor imensa alegria ou profunda tristeza. Mais do que isso, o futebol pode ser usado inclusive por governantes autoritários como importante manobra política. E é sobre eles que iremos falar nesta série de três capítulos do Alambrado. Confira a segunda parte de “Os ditadores e o futebol”.

Veja a primeira parte clicando AQUI.

Augusto Pinochet (Colo-Colo)

O regime de Pinochet fez do Colo-Colo quase imbatível (Foto: Reprodução)
O regime de Pinochet fez do Colo-Colo quase imbatível (Foto: Reprodução)

Um dos maiores ditadores da história, Augusto Pinochet foi responsável pelo golpe que tirou Salvador Allende do poder, em 1973, estabelecendo o regime ditatorial que permaneceu até 1990 no Chile.

O regime de Pinochet foi responsável pela ascensão do Colo-Colo, que já era tradicional e campeão em 13 oportunidades do Campeonato Chileno. O clube foi patrocinado pelo Estado, acirrando ainda mais a rivalidade com demais clubes contrários ao governo.

Um desses clubes contrários era a Universidad de Chile, que teve seu estádio utilizado durante o regime como campo de concentração, onde milhares de resistentes pereceram. O curioso é que a La U, durante este período, não conquistou nenhum Campeonato Chileno. Chegou até mesmo a ser rebaixado. Só voltaria às glórias em 1994, com o regime ditatorial findado.

Nacional de Chile: palco de um dos momentos mais sombrios do Chile (Foto: Reprodução)
Nacional de Chile: palco de um dos momentos mais sombrios do Chile (Foto: Reprodução)

Em contrapartida, o Colo-Colo mandava suas partidas no Estádio Monumental David Arellano, inaugurado em abril de 1975, porém, sem estrutura necessária, o Cacique acabou deixando de lado o local, jogando no Estádio Nacional do Chile. Foi que aí que Pinochet entrou em ação. Por saber que o clube chileno detinha grande apoio da população, utilizou como forma de propaganda de seu regime, investindo nele.

Contratou os melhores jogadores, melhorou a infra-estrutura e, claro, reformou o estádio, que veio a ser “reinaugurado” em 1989, quase no fim do regime ditatorial. Ganhou o título de presidente honorário por suas contribuições.

Graças ao regime, o Colo-Colo viveu o melhor momento de sua história. Devido ao patrocínio do regime ditatorial, conquistou diversas Copas do Chile, Campeonatos Chilenos, mas o principal veio após o fim da Era Pinochet. Já com a democracia restabelecida, o Cacique conquistou sua primeira e única Libertadores, em 1991, depois de vencer o Olimpia, do Paraguai.

Getúlio Vargas (Vasco e Grêmio)

"O pai dos pobres" (Foto: Reprodução)
“O pai dos pobres” (Foto: Reprodução)

Getúlio Vargas foi presidente do Brasil em duas oportunidades. Na primeira, durante o governo ditatorial, entre os anos 1930 e 1945, e depois, já democraticamente, entre 1951 e 1954. Por ter nascido no Rio Grande do Sul, é ligado ao Grêmio, mas não há registros que comprovem isso. No entanto, com o Vasco, a situação era diferente.

Tudo começou no seu primeiro mandato como “presida” do Brasil. Getúlio, um dos ditadores brasileiros que mais fez pelo povo, apesar de todos os defeitos, passou a fazer discursos do 1º de Maio, Dia do Trabalho, nos estádios de futebol, a começar por São Januário, estádio do Vasco da Gama. Foi assim durante muitos anos até 1945, quando o Estado Novo chegaria ao fim. Sempre com o estádio cheio e os espectadores aclamando-o. Só em 1942 que ele não pôde celebrar o 1º de maio, pois acabou sofrendo um acidente automobilístico.

Neste período, no Estado Novo, Getúlio chegou a discursar no Estádio Paulo Machado de Carvalho – “O meu, o seu, o nosso Pacaembu” – construído justamente durante seu mandato como presidente. Entretanto, sua ligação era com o Rio, com São Januário.

Presidente Getúlio Vargas ovacionado em São Januário (Foto: Reprodução)
Presidente Getúlio Vargas ovacionado em São Januário (Foto: Reprodução)

Em 1950, quando eleito democraticamente, retornou ao local onde se aproximou dos trabalhadores, dos torcedores vascaínos, onde construiu uma relação com o Gigante da Colina. Foi assim até 1952, ano do último discurso do presidente em solo vascaíno. Após isso, as coisas complicariam para Getúlio, que se suicidaria em 1954.

Antônio de Oliveira Salazar (time indefinido)

Ditador português também teve seu regime ligado ao futebol (Foto: Reprodução)
Ditador português também teve seu regime ligado ao futebol (Foto: Reprodução)

Há quem diga que um dos maiores ditadores da história, o maior de Portugal, Antônio Salazar, torcia para o Sporting, mas não há provas. Dizem até mesmo que ele não gostava de futebol. Pois é. O fato é que, durante o regime, muitas coisas aconteceram com os principais clubes de Portugal: Benfica, Porto e Sporting.

Comecemos falando de Porto e Sporting. Os dois clubes eram os mais próximos do regime ditatorial, principalmente os Leões, por terem torcedores “de peso” na sociedade daquela época. Já o Porto, reza a lenda que, graças à boa relação de seus dirigentes com o regime ditatorial, teria conseguido escapar de dois rebaixamentos: em 1939-40 e 1941-42.

O Benfica tinha cores vermelhas, só por isso já não era querido pelos ditadores. Era visto como o clube da ralé. Além disso, foi o primeiro clube a instalar eleições democráticas no futebol português e também presidido por opositores de Salazar.

Mesmo assim, até o término do regime de Salazar, em 39 campeonatos disputados, o Benfica venceu 19, o Sporting 13, o Porto 5 e o Belenenses apenas um. Ou seja, o clube “da oposição” superou os da situação. Mas nem tudo foi alegria.

Certa vez, mesmo campeão nacional em 1954-55, o Benfica não foi permitido disputar a ainda Taça dos Campeões Europeus, sendo o Sporting convocado para o seu lugar. Há quem diga que Salazar participou desta ação, mas nada provado. Mesmo assim, na década de 60, o Benfica chegou a disputar cinco finais de Taça dos Campeões, vencendo duas: 1960-61 e 1961-62.

Salazar, o Ministro da Educação e o elenco do Benfica campeão continental (Foto: Reprodução)
Salazar, o Ministro da Educação e o elenco do Benfica campeão continental (Foto: Reprodução)

Sem dúvidas, o Benfica é o clube mais bem sucedido em Portugal, com ditadura ou sem. Não à toa, Salazar aproveitou desta situação para fazer uma média e elevar sua imagem diante do povo português.

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